(Originalmente publicado no site Objethos – Observatório da Ética Jornalística)
Sylvia Debossan Moretzsohn
Professora aposentada da UFF, pós-doutoranda na Universidade do Minho/Pesquisadora do ObjETHOS
Passes de mágica sempre realizam um duplo movimento: atraem a atenção do público e a desviam dos mecanismos que permitiram o truque. Ao desenhar o juiz Marcelo Bretas tirando da cartola o ex-presidente Temer em pele de coelho diante da terra arrasada que Picasso consagrou mundialmente com seu painel sobre o bombardeio de Guernica, Renato Aroeira representou com precisão o mais recente golpe da Lava Jato. No estado atual de degradação da política, esse golpe pode se tornar o ponto de partida para o recrudescimento das manifestações populares que interromperam o mais longo período de democracia no Brasil e, agora, consolidariam o caminho fascistizante iniciado desde então.
Esse risco, porém, é negligenciado por quem se limita a ver nos passes de mágica apenas o movimento ilusionista. Como na sucessão de bolsonarices, damarices, olavices e outras sandices protagonizadas por membros do atual governo, também desta vez, com o estardalhaço habitual que as operações da Lava Jato provocam, retomou-se nas mídias e redes sociais a onda de alertas para o “desvio de atenção” daquilo que “realmente importa” – no caso, acima de tudo e imediatamente, a reforma da Previdência.
O ex-senador Roberto Requião, por exemplo, tuitou assim: