Rolando Lazarte*
Crimes de colarinho branco são conhecidos desde tempos imemoriais. A institucionalização da criminalidade em um sistema democrático, com tudo, é uma exacerbação desta situação anômala. Isto é o que está se vivendo no Brasil. Um processo de impeachment ilegítimo, absurdo, contrário ao que estabelece a Constituição. Mais um passo dos muitos que a direita mais reacionária, com o apoio de um juiz também atropelador e prepotente e uma mídia fascista e irresponsável, vem perpetrando contra a ordem instituída neste país.
Esta ordem é fruto de esforços de diversos segmentos da cidadania, dentre os quais, é necessário dizer, encontram-se o PT, os movimentos sociais que construíram o SUS, os que construíram uma imprensa livre, um sindicalismo plural e diverso, a expansão da educação em todos os níveis, o combate à fome, uma vasta rede expandida por todo este imenso país, a arte e a cultura como expressão de uma nacionalidade também plural e diversa que, também é preciso dizer, inclui negros, pobres, índios e mulheres.
Tudo isto está em risco pelo inconformismo do PSDB, o grande derrotado de toda esta minuciosa história de construção de cidadania, e seus aliados da direita mais torta. Os perdedores não apenas das eleições presidenciais que empossaram Lula e Dilma, mas também os grandes perdedores nesta batalha ética e política que vem se travando entre o Brasil das elites, e o Brasil includente, dos programas sociais, da cidadania para todos.
Acredito que será muito difícil que este estamento amoral e corrupto, alimentado pela mentira e pelo ódio de classe, pela calúnia e pela difamação, que vem destruindo a imagem de Lula, Dilma, o PT e a democracia, consiga governar, caso consigam perpetrar o golpe em que estão envolvidos, e que os levou a atiçarem o ódio e a destruição da frágil sociabilidade que sustenta a vida cotidiana nesta sociedade.
Abriram valas de inimizade entre as pessoas, separando amigos, dividindo famílias. Um trabalho diabólico, se nos atemos ao significado etimológico da palavra: o que divide. Racharam o país e a sociedade, atrás dos seus privilégios amorais. Está rachando a ordem constitucional. A impunidade para estes crimes será possível? Esses deputados e jornalistas venais tem vizinhos, andam pela rua. Tudo pode acontecer. “Siembra vientos, y recogerás tempestades”.
Nem os ditadores e seus apoiadores ficam impunes. A justiça tarda, mas chega. Não torço por um revanchismo que tente fazer justiça pelas próprias mãos. Isto seria como atender ao apelo destes mesmos destruidores da ordem institucional. Apenas creio que será muito difícil que depois de tamanha obra destruidora, possam usufruir do quinhão que tão afoitamente pretendem obter, às custas de tudo e de todos. Às custas da república, da democracia e dos direitos mais elementares da cidadania.
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*Sociólogo. Membro do Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba (MISC-PB) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Comunitária da UFPB (GEPSMEC)