Rolando Lazarte*
Você pode ser quem você é. Você pode estar aqui, presente.
Dias atrás, e agora, estas palavras tem vindo à minha mente com força. Você pode ser quem você é. Você já pensou nisso? Você não precisa se tornar outra pessoa, você pode ser a pessoa que você é. Isto parece absurdo, ou uma obviedade, mas não o é.
A maior parte de nós, desde pequeno, aprende a se distorcer para agradar, aprende a negar a si próprio, para ser aceito ou aceita. A vida vai indo, o tempo vai passando, e as distintas circunstâncias, as sucessivas adaptações, vão nos distanciando tanto do ser que somos, que em algum momento, podemos não saber mais quem somos.
A cultura, a sociedade, vão pressionando no sentido da des-personalização. Mas essas mesmas cultura e sociedade, também criam, simultâneamente, mecanismos de recuperação da pessoa humana. Mecanismos que trazem a pessoa de volta para ela mesma.
Melhor dizendo, esses mecanismos, criam possibilidades concretas para que a pessoa possa novamente ser quem ela é. A pessoa encontra espaços em que é aceita, em que ela não precisa se negar para ser admitida no meio das outras pessoas.
A Terapia Comunitária Integrativa é um desses espaços, é um desses mecanismos que estimulam o auto-reconhecimento e a auto-aceitação da pessoa tal qual ela é. Eu comecei a contatar a TCI em 2004, quando ela chegou em João Pessoa, no conjunto dos Ambulantes, em Mangabeira.
E, a partir desse momento, não pude mais deixar de seguir na trilha do auto-conhecimento e da auto-aceitação. Este caminho é contínuo. Eu me via no meio de pessoas simples, pobres materialmente, mas ricas humanamente. Elas tinham uma alegria de viver.
Eu via elas cada vez mais alegres, mais contentes consigo próprias, mais motivadas para viver uma vida mais autêntica. Isto ia me contagiando. Também ganhei coragem, e trouxe para a roda as dores e dificuldades que me atormentavam.
Ao invés de explicações e interpretações ou conselhos, encontrei acolhimento e compreensão, simpatia e apoio. Tinha passado durante anos por diversos tipos de terapias, e cada vez estava mais longe de mim mesmo, afundado cada mais no estranhamento e na depressão.
Comecei a voltar, fiz a minha formação em TCI, e comecei a colaborar em formações em TCI e em sensibilizações, acompanhando também cursos de Cuidando do Cuidador. Incorporei-me à rede da TCI.
Hoje posso dizer que para mim, a mensagem essencial e mais efetiva da TCI para a pessoa que está em busca dela mesma é: você pode ser. Você pode ser você mesmo, exatamente do jeito que você é. E esta mensagem chega a você de maneira ao mesmo tempo compreensiva, racional, lógica, e vivencial, emocional, experimental.
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*Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da Universidade Federal da Paraíba GEPSMEC-UFPB, e do Movimento de Saúde Comunitária da Paraíba MISC-PB. Sociólogo e terapeuta comunitário.