NOTA DE REPÚDIO
A ADUFPB vem a público manifestar o seu veemente repúdio à política de cortes do governo golpista que, obedecendo aos ditames do mercado, tem atingido com particular ferocidade a ciência, a inovação tecnológica, a educação e a cultura em nosso país. Tal escolha de prioridades produziu como o mais recente de seus crimes o incêndio no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na noite desse fatídico 2 de setembro de 2018.
O Museu Nacional era a instituição científica mais antiga do país. Fundado por D. João VI em 6 de junho de 1818, abrigava um acervo da ordem de 20 milhões peças, o maior conjunto de História Natural e Arqueologia da América Latina. O Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, como era mais conhecido, sediava ainda 9 cursos de pós-graduação e centenas de pesquisas documentadas e em andamento. Era um patrimônio nacional histórico, cultural, identitário e afetivo. Trata-se de uma perda inestimável e irrecuperável.
O incêndio em questão não foi um acidente. Ele deve ser considerado como produto do total descaso do atual governo para com a ciência e a tecnologia brasileira. Está diretamente vinculado aos cortes de investimentos produzidos a partir da ascensão do golpista Temer à presidência da República e da aprovação/promulgação da criminosa Emenda Constitucional 95, que colocaram na ordem do dia a dilapidação e privatização do patrimônio público, a destruição da soberania nacional e a regressão dos direitos conquistados pelos trabalhadores desse país ao longo da nossa história cruenta.
No momento em que o nosso país vive uma de suas maiores crises institucionais, historicamente, o governo Temer aponta o caos econômico e social e o arbítrio político cada vez mais evidente como caminho. A tão propalada “ponte para o futuro” consolidou-se como caminho para um passado de privilégios para corporações poderosas e opressão sobre o conjunto dos trabalhadores brasileiros. Está em pleno curso a maior inversão de prioridades – se tivermos a constituição de 1988 como referência – de nossa construção enquanto democracia.
Simbolicamente, o descaso com o patrimônio histórico e científico é também uma forma de dominação e opressão das classes dominantes, uma autêntica apropriação para destruir, porque uma sociedade que não se referencia em seu passado deixa caoticamente aberta as possibilidades de construção do futuro. São os pilares de nossa jovem democracia que estão em xeque.
Encerramos conclamando ao conjunto dos docentes para que façam de seu cotidiano laboral um momento de permanente diálogo no sentido de construir a unidade de nossas forças para os enfrentamentos que precisamos desenvolver contra o abandono da produção e preservação do conhecimento. Mais que isso, devemos ocupar todos os espaços possíveis no sentido de fazermos a denúncia da política de destruição do conhecimento nacional e de nossos direitos, e afirmarmos o único caminho possível para que possamos derrotar e superar a crise em curso: a retomada de nossa democracia e seu aprofundamento com justiça social.
Diretoria Executiva da ADUFPB