Por Rolando Lazarte*
Hoje voltei da Argentina, de Buenos Aires, para ser mais preciso. De Mendoza, para ser ainda mais preciso. Preciso dizer estas coisas com precisão, pois é preciso ser claros quando queremos nos comunicar. Cheguei em João Pessoa, Aeroporto Castro Pinto. Aeroporto El Plumerillo, do outro lado, em Mendoza. De lá pra cá, aeroportos, vários. São Paulo, Ezeiza. Migrações, Polícias.
O fato é que depois de três meses de ausência da minha casa, tendo estado em casa (lá em Mendoza) pois tenho duas casas, uma em João Pessoa e outra em Mendoza, Argentina, estou agora aqui em casa, na Avenida Nossa senhora dos Navegantes, Tambaú. Casa lá, casa cá. De casa em casa, tudo fica em casa.
A coisa é ficar em casa. Tangos lá, aqui forró, é isso aí. Família lá, família cá. Chego em casa e sinto aquela sensação sem igual, a que somente se sente quando estamos em casa. Os quadros na parede. Os amigos que a gente construiu. Os livros nas estantes. O calor, o tempo, o clima. Lá frio, cá, calor. Lembranças dos tempos passados na Argentina, o maior tempo passado desde o ano de 1977.
Outra Argentina, outra gente, outo eu. Tudo outro. O passado é o tempo que não fica no seu tempo, vem para o presente (Mario Quintana). Mas agora parece que o passado está querendo verdadeiramente ficar no passado. Sim, é isto. Agora aqui, agora isto. O livro recém nascido: Libertatura. Libertação na palavra, pela palavra, com a palavra.
A vivência desfaz a ilusão do repetido, e a literatura possibilita essa dissolução. Nada é como já foi. Tudo é novo. Podemos nos recompor identitariamente em comunidade. A nossa identidade é comunitária. Recompomos a nossa sensação de unidade em comunidade. A comunidade nos devolve a sensação do nosso ser real.
* O autor é sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da UFPB e do Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba.