Na tarde desta quarta-feira (22), no Centro de Vivência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), campus I, a ADUFPB realizou a mesa-redonda “Alterações no litoral pessoense: interesses, impactos e perspectivas”, promovida pela parceria entre o Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) do sindicato e o Comitê UFPB – Estudos Aterramento/Alargamento das Praias de João Pessoa. Participaram da discussão o professor e pesquisador Saulo Vital, do Departamento de Geociência da UFPB, a professora e deputada estadual Cida Ramos e o professor e pesquisador Paulo Horta, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – por teleconferência.
O objetivo do encontro foi discutir o projeto de alargamento da orla de João Pessoa, que tem provocado forte movimentação entre ambientalistas e pesquisadores paraibanos. Além de alertar para os impactos ambientais da obra, os especialistas criticam a falta de diálogo com a sociedade civil a respeito dos detalhes do projeto. “Quando questionamos esse projeto, a prefeitura recuou, na intenção de que esqueçamos o assunto. Mas a sociedade precisa acompanhar tudo, pois diz respeito à possível destruição de um bem que é de todos, em prol da especulação imobiliária. Vereadores pessoenses e deputados paraibanos, além do próprio governo federal, também devem se pronunciar sobre esse caso”, ressaltou Cida Ramos.
O evento foi aberto pela palestra do professor Paulo Horta, que apresentou slides sobre o alargamento das praias do balneário Camboriú, a de Canasvieiras, a dos Ingleses e a de Jurerê – todas em Santa Catarina, onde ele vive. “Os efeitos colaterais da engorda de praia são muito fortes, e a erosão permanece, porque é um processo natural, que nunca para. Ou seja, além de demandar investimento alto e contínuo, ainda é preciso arcar com os vários problemas decorrentes dessa ação”, disse. De acordo com ele, o investimento no alargamento das praias catarinenses chegou a R$ 140 milhões. “No entanto, não há dinheiro para saneamento básico, para adaptação e mitigação de mudanças climáticas, para acomodação da população que vive em área de risco e para recuperar rios e baías contaminados”, ponderou o pesquisador.
O projeto – Anunciado pela Prefeitura Municipal em outubro de 2021, o projeto de alargamento só ganhou destaque ao ser retomado no início de fevereiro deste ano, quando o prefeito da capital paraibana, Cícero Lucena, detalhou que a obra prevê uma pista viária contornando a Falésia do Cabo Branco. Segundo ele, o objetivo desse seria proteger a falésia e conter o avanço do mar sobre a orla. A estimativa é que a obra custe em torno de R$ 200 milhões, conforme declarou o secretário de Infraestrutura de João Pessoa, Rubens Falcão, em entrevista a uma rádio local, no mesmo período.
Reflorestamento – Para o professor Saulo Vital, uma saída mais barata e duradoura para o problema da falésia do Cabo Branco é o reflorestamento local. “A impermeabilização do topo da falésia, com as pistas de asfalto colocadas perto dos limites da barreira, por exemplo, impede que a água da chuva seja absorvida pela terra. Sem essa absorção, ela escoa e se concentra nas margens, intensificando o processo erosivo”, explica. O pesquisador defende um estudo interdisciplinar, envolvendo universidades e órgãos públicos, que produza um relatório completo, a partir de audiências públicas que busquem consenso sobre a questão.
O professor Ricardo Lucena, coordenador do GTPAUA, ficou muito satisfeito com o resultado da mesa-redonda. “A partir desse primeiro encontro, vamos estreitar a parceria com o Comitê UFPB e ampliar a discussão no meio acadêmico, para leva-la à população. Se esse projeto passar do jeito que foi apresentado, João Pessoa será outra cidade. E uma cidade que não queremos”, salientou.
Fonte: Ascom ADUFPB