O Departamento de Artes Visuais e o Programa de Pós-graduação em Artes Visuais UFPB/UFPE emitiu na última segunda-feira (5/10) uma carta de repúdio pela destruição do mural de azulejos modernistas que cobria um anexo da Reitoria, no campus I.
Afixado há mais de 40 anos naquele local, o mural era uma valiosa obra artística e arquitetônica de autoria do arquiteto e urbanista Acácio Gil Borsoi, representante da arquitetura moderna brasileira. O caso se tornou público no dia 23 de setembro e logo ganhou repercussão nas redes sociais.
Na nota de repúdio, o DAV e o Programa de Pós em Artes Visuais expressam que “esse lamentável fato demonstra o descumprimento da Constituição da República Federativa do Brasil pela atual gestão da UFPB, especialmente no que se refere ao Art. 216, § 1º, que diz: ‘o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação’”.
Leia a nota na íntegra:
DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS/UFPB E PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS (UFPB/UFPE)
CARTA DE REPÚDIO
O Departamento de Artes Visuais (DAV-UFPB) e o Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (UFPB/UFPE) vêm a público emitir carta de repúdio diante da destruição de um mural de azulejos modernistas, fixados há mais de 40 anos, em parte das edificações da Reitoria, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). É considerado parte do patrimônio arquitetônico e moderno do Nordeste, bastante valioso do ponto de vista artístico e cultural.
Trata-se de uma obra artística e arquitetônica, projetada originalmente para abrigar a Biblioteca da UFPB, em 1968, de autoria do arquiteto e urbanista Acácio Gil Borsoi, representante da arquitetura moderna brasileira, quando participou e foi vitorioso em concurso público para esta finalidade. O mural já havia sido antes parcialmente destruído em administrações passadas, com abertura de duas janelas e colocação de dois ares-condicionados, o que demonstra ser esse fato apenas uma continuação da falta de atenção dos que supostamente são responsáveis diretamente pelo zelo do patrimônio artístico e histórico da UFPB.
Esse lamentável fato demonstra o descumprimento da Constituição da República Federativa do Brasil pela atual gestão da UFPB, especialmente no que se refere ao Art. 216, § 1º, que diz: “o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”.
Essa situação evidencia uma ausência efetiva de uma política de cultura na gestão atual da UFPB, especialmente destinada à valorização de acervos artísticos e demais patrimônios históricos. Isso é visível na deterioração de espaços que foram planejados para a divulgação e valorização da área artística e cultural, como é o caso da Pinacoteca e do NAC, entre outros, o que ocorre com outras edificações e acervos artísticos tão desmerecidos, também, no contexto governamental do nosso país. A destruição de patrimônios artísticos e culturais contradiz, veementemente, o que é ensinado e pesquisado na UFPB, bem como em demais universidades brasileiras e do mundo.
Esta atitude equivocada alerta para constantes descasos da gestão pública, em âmbito municipal, estadual e federal, que ataca, altera e vem desconfigurando, paulatina e progressivamente, o patrimônio artístico e arquitetônico em diversas cidades do nosso país, a exemplo do que está ocorrendo com alguns edifícios históricos da UFPB.
Esses fatos voltam a evidenciar a necessidade urgente de que a UFPB repense suas condutas de gestão, que estabeleça com urgência uma política cultural eficaz, de modo a valorizar e preservar sua memória histórica, artística e arquitetônica, evidenciando uma atuação coerente com o que ensina e pesquisa.
João Pessoa, 05 de outubro de 2020.
Departamento de Artes Visuais (DAV-UFPB)
Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (UFPB/UFPE)