Baseado em fatos reais, ‘Abraço’, filme produzido pelo movimento sindical, estreia este mês nos cinemas e em plataformas digitais
Andre Accarini
O cinema nacional ganha este mês uma obra-prima que retrata a vida e o cotidiano de trabalhadores e trabalhadoras na luta para não perder seus direitos, cidadania e a dignidade.
“Abraço – a única saída é lutar”, filme que estreia nesta quinta-feira (15) em drive-ins e cinemas digitais e no dia 29 de outubro em plataformas digitais (veja no fim da matéria), é uma obra de ficção baseada em fatos reais e conta a luta de professores no estado de Sergipe, em uma greve por direitos realizada em 2008.
Denso e carregado de emoção, o filme mostra a saga de Ana Rosa (Giuliana Maria), professora, mãe, líder sindical, que enfrenta a oposição e o machismo da família para liderar os professores em um importante movimento grevista.
Para contar essa história, o diretor DF Fiuza partiu da premissa de que setores da sociedade preservam conceitos conservadores e têm uma visão ainda distorcida de líderes populares – sindicais e de movimentos sociais.
“Há um olhar preconceituoso como se o militante fosse um vagabundo, que só fizesse baderna. O filme desconstrói isso”, diz o diretor.
De acordo com ele, Abraço traz a intimidade dessas pessoas, destacando o lado humano e mostrando que têm problemas, têm família, que são de ´carne e osso’.
Uma das cenas do filme retrata de forma exata o conservadorismo ao mostrar os obstáculos que Ana Rosa enfrenta dentro de casa. O diálogo entre a personagem e sua mãe escancara o machismo estrutural em nossa sociedade.
A única saída é lutar
Em 2017, ano em que o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese) completou 40 anos, surgiu a ideia da produção de um documentário mostrando a história de lutas da entidade.
O Brasil estava vivendo os retrocessos impostos pelo golpe que destituiu Dilma Rousseff da Presidência da República e já sofrendo com as ações do governo do ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) que colocava em prática os planos da elite econômica para acabar com direitos sociais e trabalhistas.
“Naquele momento, decidimos fazer um filme de ficção que refletisse o que é o Brasil de hoje. Apesar de a história se passar em 2008, optamos por mostrar a realidade que estamos vivendo no país, um momento muito ruim”, explica Fiuza.
Assim, a proposta de documentário se transformou em um longa-metragem que retratasse a história do sindicato, mas que dialogasse com o Brasil de hoje, “que está regredindo tanto nos direitos como na cultura, na educação e em todos os setores”, completa o diretor.
Para DF Fiuza, o diálogo sobre luta por direitos não pode ser feito somente com as bases sindicais. Tem que ser com a sociedade como um todo. “E para dialogar com a sociedade, os mecanismos são diferentes do mecanismo de uma assembleia, por exemplo, e é aí que o cinema pode fazer essa ponte, assim como todas as formas de cultura”, ele diz.
Crítica
Vencedor de três prêmios (melhor filme, melhor atriz e melhor trilha sonora) pelo júri popular em um importante festival de cinema brasileiro, o Cine PE (Festival de Cinema de Pernambuco, em 2019), Abraço teve recepção positiva do público em exibições prévias.
O filme foi mostrado a grupos diferentes de pessoas enquanto estava na fase de finalização de produção. O diretor conta que as pessoas que militam no movimento sindical e sacrificam parte da vida pela luta, se sentiram representadas e valorizadas pela obra.
O filme também foi exibido a trabalhadores que não têm vínculos com sindicatos. Esses, de acordo com Fiuza, demonstraram uma sensação de convocação. “Relataram um sentimento do tipo e eu, o que estou fazendo?”
Do grupo mais elitizado, que não participa de lutas de maneira nenhuma, veio a surpresa. O diretor conta que algumas pessoas parabenizaram a produção por mostrar o lado ‘ser humano’ de líderes populares.
O filme também foi aprovado pelo Teste de Bechdel Brasil. Para ser aprovado precisa ter, no mínimo, duas personagens femininas que tenham nome na trama e conversem entre si sobre algum assunto que não seja um homem.
O diretor explica que grande parte das produções nacionais não consegue passar nesse teste.
Repercussão
O longa metragem teve patrocínio do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese) e parceria da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da CUT.
Sérgio Nobre, presidente da CUT, reforçou que o filme é o primeiro longa-metragem produzido pela classe trabalhadora.
Heleno Araújo, presidente da CNTE, exaltou a produção do filme e fez uma convocação a todas as entidades para divulgarem a obra. Veja o vídeo.
Ficha:
No elenco estão, entre outros, Flávio Bauraqui, Giuliana Maria, Flávio Porto, Rose Ribeiro e Isabel Santos.
A premiada trilha sonora é de André Abujamra e Eron Guarniere, com participação do compositor Chico César. A música-tema é ‘Pra não dizer que não falei de flores’, de Geraldo Vandré.
O filme utilizou mais de 500 figurantes reais e mais de 80 atores locais, de Sergipe, desconhecidos do grande público. Abraço quer ocupar o lugar de filme que faz uma leitura e uma crítica ao cenário político brasileiro atual, principalmente no que diz respeito ao descaso e desvalorização permanente aos professores e à educação de modo geral.
Apesar da crítica social contida na obra, trata-se de um filme de ficção que aborda o drama pessoal de uma professora dividida entre a defesa de seus direitos profissionais e a rotina doméstica em sua casa.
O Filme Abraço venceu os prêmios de Melhor Filme (Júri Popular), Melhor Atriz e Melhor Trilha Sonora Original no Festival de Cinema de Pernambuco 2019
ABRAÇO – A única saída é lutar!
- 15/10 nos drive-ins, cinemas selecionados e cinema virtual.
- 29/10 nas plataformas digitais (Apple Tv, Google Play, NOW, Looke, Vivo Play e Youtube Filmes)
Um filme de DF Fiuza.
Realização do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (SINTESE)
Fonte: CUT.org.br