Por Najla Passos
ANDES-SN

O fortalecimento do ANDES-SN e da sua legitimidade também passa pela busca de diretrizes para uma política de comunicação com viés estratégico. Para o professor de Comunicação do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa – SINDUEPG Seção Sindical, Sérgio Luiz Gadini, esse é um dos mais importantes desafios lançado aos participantes do 29º Congresso do ANDES-SN. A posição vai ao encontro à discussão que já vem sendo travado no interior da diretoria do Sindicato Nacional, que têm tentado operar mudanças na forma da entidade conduzir as ações da área, mas que ainda esbarra em muitas resistências. “O ANDES-SN não pode enxergar a comunicação apenas no seu aspecto operacional. É preciso pensar em intervenções sociais a partir da mídia”, defende o professor, que participou da confecção do Texto de Resolução apresentando pelo SINDUEPG como contribuição ao debate. Confira a entrevista que ele concedeu ao InformAndes durante o 29º Congresso do ANDES-SN:

– Como você avalia a política de comunicação do ANDES-SN?

Há uma grande falha na área de comunicação do ANDES-SN, não se sabe se por falta de condições ou por falta de uma tradição de reconhecer a comunicação como um campo de intervenção política, porque não há como pensar a sociedade contemporânea sem a intervenção pelo campo midiático. Em outras palavras, significa que os espaços de mídia que temos não são meramente operacionais: são espaços constituintes e constituidores da sociabilidade. Isso significa que é preciso pensar os movimentos sociais e a organização dos trabalhadores de qualquer área com estratégias de comunicação. É preciso pensar em intervenções sociais a partir da mídia. E, infelizmente, pela leitura que faço, o ANDES-SN simplesmente não tem política de comunicação com essa perspectiva estratégica, como uma política de intervenção para além do aspecto meramente operacional.

– Você defende que a comunicação seja uma área estratégica para a concepção do próprio sindicato?

Não há como pensar, por exemplo, uma política editorial científica sem pensar simultaneamente em ações de comunicação que dinamizem as ações em outros campos do ANDES-SN. Não dá para pensar que uma diretoria se constitua, adquira legitimidade na época da sociedade da informação sem entender a comunicação como um campo estratégico de intervenção.

– O que você propõe para fortalecer esse debate da comunicação como arma de disputa de hegemonia no ANDES-SN?

No SINDUEPG, nós discutimos em assembléia que o fortalecimento do ANDES-SN também passa pelo reconhecimento deste setor em que hoje a gente encontra uma certa dificuldade de atuação. E trouxemos um texto para este Congresso, como forma de contribuição. A idéia é provocar um debate mais do que necessário e atual. Em alguns casos, teremos que correr para acompanhar o que está acontecendo concretamente.

– Como você avalia a posição do ANDES-SN de não ter participado do processo de construção e debate da Conferência Nacional de Comunicação, em 2009?

Pela primeira vez no Brasil, tivemos uma Conferência Nacional de Comunicação. A não participação do ANDES-SN, principalmente ao não levar esse debate para as Seções Sindicais, ao não elencar a demanda da luta pelos espaços democráticos de comunicação do país, deixa a entidade fora de um processo importantíssimo, mesmo com todos os problemas e debilidades que o governo federal criou, inclusive, a partir de alianças muito questionáveis com setores empresariais da mídia. A Conferência Nacional de Comunicação foi importante porque conseguiu espaço para se discutir comunicação pública pela primeira vez no Brasil. Até então, a comunicação ficava nessa mera negociação de interesses privados. A prática de mídia no Brasil, infelizmente, é a de apropriacão indevida de concessões públicas, e a estratégia de barganha política regional e nacional deixa o interesse público, em um segundo plano. nós temos hoje inúmeros grupos sociais, entidades, sindicatos, movimentos cientes de que esse debate precisa avançar para falarmos de fato em políticas públicas de comunicação. O Brasil é um dos países mais atrasados da América Latina em políticas de mídia comunitária, por exemplo. Nossa legislação é precária, mas mesmo assim conseguimos realizar boas ações.

– Uma legislação precária e extremamente criminalizante…

Sem dúvida. É a velha prática de criminalizar os movimentos sociais e sindicais. Como se fosse um crime reivindicar formas de se expressar, de se comunicar. Mas o central, agora, para o ANDES-SN, é que temos um desafio. O fortalecimento do ANDES-SN e sua legitimidade também passa pela busca de diretrizes para uma política de comunicação nesta leitura estratégica. É um desafio. Não temos fórmulas, receitas. Precisamos pensar, construir.

Fonte: ANDES-SN