A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pode dar início ao período 2020.1 no mês de setembro exclusivamente na modalidade ensino remoto. Uma proposta com esse teor será analisada nesta segunda-feira (27) pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe). A reunião está marcada para as 9h e ocorrerá de forma virtual.
Para a ADUFPB, a proposta precisa ser analisada com cautela. A entidade alerta para o fato de existiram muitas falhas no processo de ensino remoto implantado até agora pela universidade. No início do mês de julho, a ADUFPB já havia divulgado uma nota oficial analisando a possibilidade de início do período 2020.1 e apontando que a experiência acumulada até o momento – como o encerramento do período 2019.2 e o processo de ensino complementar – indicou problemas que precisam ser resolvidos para garantir a qualidade do ensino.
Entre as falhas encontradas estão a dificuldade de acesso e permanência dos estudantes nas aulas virtuais, a dificuldade de alguns docentes de atuar com sucesso nas sistemáticas didático-pedagógicas do ensino remoto e o uso, por parte dos professores, de recursos materiais próprios e não disponibilizados pela instituição (leia, abaixo, a nota do Sindicato).
O presidente da ADUFPB, Fernando Cunha, explica que, independentemente da decisão do Consepe nesta segunda-feira, o sindicato está programando uma série de plenárias, a serem realizadas por centros de ensino, para discutir exclusivamente o novo calendário proposto. “Dependendo das posições que saírem das plenárias, iremos realizar uma assembleia virtual para tratar dessa questão”, explica Fernando Cunha.
As atividades presenciais da UFPB estão suspensas desde março devido à pandemia do novo coronavírus. O período 2019.2 foi concluído de forma remota e, em junho, a instituição iniciou um processo de aulas virtuais, porém de caráter complementar e não obrigatório. Na última sexta-feira (24), a universidade divulgou uma minuta de resolução com proposta de início do período 2020.1 no mês de setembro e esse documento será apreciado pelo Consepe nesta segunda-feira.
Conforme a minuta, o “Período Regular Remoto será realizado por meio de ensino remoto e tem por finalidade fortalecer o vínculo institucional e possibilitar a aprendizagem dos discentes com a oferta de componentes curriculares”. O documento apresenta um calendário das atividades, início do período 2020.1 em 8 de setembro e término em 12 de dezembro.
Leia a nota oficial divulgada pela ADUFPB:
NOTA – Período 2020.1: ainda não é tempo
À medida que o Período Letivo Especial (2019.4) vai tendo transcurso e se aproximando do término e, par e passo, a Administração Superior da nossa instituição vem se manifestando publicamente, a nosso ver, de forma açodada, ao arrepio do necessário posicionamento prévio das instâncias deliberativas, sobre o início e o funcionamento do período letivo regular 2020.1, a Diretoria da ADUFPB, em sua condição de direção política do movimento docente, vinculado ao ANDES-SN na UFPB, vem apresentar à comunidade universitária considerações que julga pertinentes para os debates, as decisões e a respectiva implementação de medidas a serem adotadas ao término desse período suplementar.
Em primeiro lugar, é preciso destacar a natureza profundamente contraditória do ambiente em que se desenvolvem o debate e a busca de soluções para a continuidade das atividades acadêmicas durante a crise pandêmica. Por um lado, a situação atual, de severas restrições a atitudes e a hábitos característicos do que entendemos por normalidade, ainda irá se prolongar por médio ou mesmo longo prazo. Pensamos que ninguém, em sã consciência, acredita que a suspensão dessas restrições, características e caracterizadoras de uma excepcionalidade, dar-se-á no curto prazo. A reversão da atual situação, com a consequente restauração da normalidade (nova ou não), deve ser esperada com uma boa dose de paciência. Por outro lado, o extenso intervalo previsto pode nos conduzir, inadvertidamente, a uma tendência de aceitar como normalidade aquilo que estamos vivenciando no presente. No entanto, sem qualquer sombra de dúvida, o momento atual deve ser absorvido como uma excepcionalidade. É preciso deixar muito claro que, embora estejamos transitando no terreno movediço dessa dualidade, o que estamos vivendo é uma situação excepcional de longa duração e não uma nova – e mais precária ainda do que já era a anterior – normalidade!
Nessa perspectiva, em que pesem diferenças entre nossas proposições para o período letivo em curso e o que foi de fato concretizado, a leitura que fazemos das atividades didático-pedagógicas que estão sendo desenvolvidas é a de um laboratório, no qual, ao identificarmos as imperfeições/falhas nos trabalhos realizados, vamos tentar formular soluções que possam, enquanto durar a situação de exceção que estamos vivendo, assegurar, em nossa universidade, um padrão de qualidade indispensável ao compromisso institucional que deve ser preservado pela UFPB na oferta do Ensino, assim como na Pesquisa e na Extensão.
Isso posto, cumpre reconhecer que as imperfeições/falhas no/do período-laboratório têm sido muitas e de ordens diversificadas. Com o intuito de ressaltar aquelas que consideramos mais sérias, mas sem qualquer pretensão de esgotá-las, apresentaremos, na sequência, um conjunto de temas que nos parecem bastante representativos.
A questão dos impedimentos do acesso e da permanência do alunado nas atividades, originada por um complexo conjunto de fatores, tem se apresentado dramática. Para além de uma participação inicial abaixo da desejada, conforme ficou evidenciado pelo resultado da matrícula, o decréscimo do número de estudantes nas atividades, ao longo do período, é patente.
A dificuldade, para um grande número de docentes, de atuar com sucesso nas sistemáticas didático-pedagógicas adotadas nas atividades de ensino remoto é claramente perceptível. Em que pesem as inquestionáveis boas intenções e os esforços dos ministrantes dos cursos preparatórios para as novas sistemáticas/modalidades/metodologias/tecnologias, a capacitação pretendida, lamentavelmente, não foi atingida no patamar desejado, longe disso.
A questão da utilização, pelos docentes, de recursos materiais próprios, em sentido amplo, frente à ausência, pura e simples, da disponibilização deles pela instituição, também é um fator preocupante, ainda mais tendo em vista os exíguos limites das condições de trabalho dos docentes e da infraestrutura para o desenvolvimento do ensino remoto. Principalmente, e acima de qualquer coisa, porque a garantia das condições de aprendizado, para os estudantes, e das de trabalho, para os docentes e servidores técnico-administrativos, são atribuições precípuas da instituição.
Cabe lembrar que todos esses temas têm, como transversalidade, o grave problema da situação estrutural da UFPB, mormente no que tange a equipamentos e serviços eletrônico-informacionais, que pode ser considerado, por si só, um tema específico.
Depoimentos de professores e estudantes – no caso dos docentes, existe um conjunto de depoimentos coletados pela nossa entidade, mas que ainda não estão sistematizados – são evidências empíricas que não deixam dúvidas: há, ainda, um longo caminho a ser trilhado, seja na proposição de soluções, seja na testagem e consequente implementação, seja no aperfeiçoamento, para nova testagem, das soluções propostas, para que se possa assegurar, com tranquilidade, a materialização da qualidade que queremos para o funcionamento das atividades de Ensino remoto na UFPB. Mesmo no momento excepcional que vivemos, é imperativo preservar nosso compromisso institucional. Até mesmo com o propósito de, a partir dessa vivência hodierna, sermos capazes de, quando possível, construirmos novos e melhores tempos de normalidade.
Reconhecendo, no momento atual, os percalços que estamos enfrentando, buscando um espaço adicional de ensaio, indispensável para avançar na qualidade do ensino remoto nessa condição excepcional, e tomando como ponto de partida o que está sendo conquistado, em seus bônus e ônus, no semestre em curso, esta Diretoria vem trazer suas proposições, visando oportunidades de ampliar nossa qualificação para o exercício docente, no caso dos professores, e para o aprendizado, no caso dos estudantes.
Como ponto fundamental de nossa proposta, trazemos a ideia da realização de mais um Período Suplementar Excepcional, ao final do atual, de mesma duração (dez semanas). Nele seriam desenvolvidas duas grandes linhas de atividades:
– na primeira delas, mais eminentemente articulada à prática processual do ensino e da aprendizagem, o desenvolvimento, nas atividades oferecidas (cursos livres, workshops, simpósios, disciplinas etc), da testagem das soluções já propostas a partir dos problemas identificados, com o intuito de verificar sua viabilidade concreta;
– na outra, um trabalho de caráter mais institucional, congregando – horizontalmente e verticalmente – as diversas instâncias responsáveis pelo Ensino na UFPB, com vistas à identificação de problemas ainda não solucionados, revisão ou reformulação de soluções que se revelem inadequadas pela testagem, tudo culminando em um relatório com dados das experiências acumuladas nos dois períodos excepcionais, consideradas as condições efetivas existentes naquele momento para o desenvolvimento de um semestre regular de ensino remoto na sua sequência.
Para concluir, enfatizamos que a proposta aqui apresentada é fruto de um amplo debate com a categoria nas instâncias sindicais e tenta alcançar uma formulação que espelhe nossa incansável luta na defesa da UFPB laica, pública, gratuita, democrática e de qualidade.
João Pessoa, 7 de julho de 2020.
ADUFPB- DIRETORIA EXECUTIVA