A história das lutas do trabalho e de suas organizações é marcada por enfrentamentos, por enormes desafios e contradições. Muitos abriram mão de afetos, amizades, relações familiares e questões relacionadas ao seu próprio trabalho. Vários trabalhadores e trabalhadoras foram perseguidos, sofreram violência, assédio moral e mesmo assim resistiram. Mas nas lutas também criamos laços de solidariedade, construímos amizades, afetos e, acima de tudo, crescemos como seres humanos.
Na história do movimento docente, vários tiveram que deixar de lado progressões e promoções funcionais para construir os sindicatos, que, ao longo dos últimos 40 anos, têm defendido o ensino público, gratuito e de qualidade. Nossas relações pessoais acabam assumindo novos caminhos, através do movimento que faz e desfaz laços afetivos, quer seja pela distância, resultado da agenda sempre intensa, ou mesmo por descobertas de posições que às vezes tornam a convivência menos interessante. Não podemos nos fechar em nós mesmos, pois, em nossas bandeiras, sempre estiveram presentes a democracia, a tolerância, o respeito às diferenças e às liberdades.
Preservo a convivência com pessoas que têm visões de mundo diferentes da minha, que têm opções políticas e ideológicas distintas. Nada nos impede de dizer o que pensamos. No entanto, o tempo presente não tem sido fácil e isso não acaba com o fim das eleições presidenciais. Muito ainda está por vir. O estrago já foi feito, foram anos construindo uma cultura que adquiriu volume e se espraiou na sociedade brasileira, contaminou de tal forma as relações sociais que o ódio e a intolerância são provas irrefutáveis. Milhares tomaram as ruas no Brasil, num movimento de massas com bandeiras da extrema direita, para expressar seu desprezo pelos direitos humanos, às liberdades democráticas e às políticas sociais que melhoram as condições de vida e trabalho de milhões de outros brasileiros.
Desde a redemocratização do país, nunca uma eleição foi desta forma. Não me refiro às mentiras e às notícias falsas, pois estas sempre estiveram presentes, mas não tinham a velocidade e a capilaridade da internet. Refiro-me ao medo de andar com adesivos e camisetas, com receio de ser vítima de algum tipo de violência, fruto do ódio e da intolerância à que me referi acima.
Mas vamos sobreviver! Pois, como afirmei anteriormente, nem sempre fácil e tranquilo defender direitos.
Pela memória dos que tombaram no passado, pelo nosso presente e, fundamentalmente, pelo futuro das próximas gerações: coragem!
Marcelo Sitcovsky