Professores, servidores técnico-administrativos e estudantes da UFPB convivem diariamente com um quadro grave de sucateamento da universidade. São cada vez mais frequentes as denúncias contra as precárias condições de ensino, pesquisa e extensão na instituição.
O caso mais recente aconteceu no dia 18 de agosto, quando um aparelho ar condicionado simplesmente caiu, colocando em risco estudantes e professora, durante a aula no Bloco E da Central de Aulas (CA). O equipamento atingiu diretamente uma das estudantes, que foi levada por colegas ao Hospital de Emergência e Trauma para exames.
Mas antes desse caso, muitos outros já haviam sido registrados. Duas semanas antes o acidente do CA, parte do teto do Centro de Ciências Jurídicas do campus I caiu em cima da plataforma de acesso às salas de aula.
A área ficou interditada por pouco mais de uma semana, obrigando alunos, professores e funcionários a utilizar unicamente a escadaria. A interdição da passarela dificultou o acesso às aulas de alunos cadeirantes, com dificuldade de locomoção e com deficiência visual.
Segundo a aluna Gessica Araujo, que estuda no CCJ desde 2014, problemas semelhantes são frequentes no centro. “Consertam o buraco e depois aparece outro em outro lugar. É um problema da estrutura do prédio todo”, avalia. Pelo menos duas salas encontram-se interditadas no CCJ devido a esses problemas.
No CCSA (Centro de Ciências Sociais Aplicadas), o teto também cedeu em abril deste ano. O incidente aconteceu no segundo andar do prédio da Biblioteca Setorial, assustando alunos, funcionários e professores.
Além dos prédios com estrutura comprometida, a comunidade universitária convive também com várias obras inacabadas. No Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), um dos problemas é o elevador que dá acesso a salas de aula e laboratórios. O equipamento nunca funcionou, embora faça parte do projeto do bloco de salas inauguradas nos últimos cinco anos.
De acordo com o professor Carlos Cartaxo, do CCTA, sem o elevador, professores e alunos cadeirantes precisam ser carregados até os laboratórios, que ficam no segundo e terceiro pavimento.
Prédios inacabados
Mas há também os prédios que sequer chegaram a ser inaugurados. Segundo relatório da Diretoria de Obras da UFPB, existem na instituição 46 construções paralisadas e outras 19 licitadas, mas não iniciadas.
Os dados foram divulgados na imprensa local em março deste ano, quando professores do Centro de Educação se uniram para “comemorar” o aniversário de uma das várias obras inacabadas do campus I. Trata-se do prédio que seria destinado à Pós-graduação em Educação, cuja construção foi iniciada em 17 de março de 2011, com prazo de conclusão de um ano. O descaso foi denunciado com uma atividade bem humorada, com bolo e ao som de “Parabéns para você”.
Interior
A situação também é delicada no campus Litoral Norte, localizado nas cidades de Rio Tinto e Mamanguape. Um dos problemas do local é referente à rede elétrica, que foi subdimensionada e necessita de readequação. O resultado disso é que simplesmente não é possível instalar sequer um ar condicionado, devido aos riscos de sobrecarga do sistema.
Além disso, segundo o diretor da secretaria adjunta da ADUFPB no Litoral Norte, Cristiano Bonneau, muitas salas se encontram mofadas e sem condições para receber aulas. Outro problema que afeta as condições de ensino é a falta de transporte para levar professores e alunos de uma cidade à outra do campus.
“Por exemplo, se eu der aula no horário da manhã numa unidade e precisar dar aula à tarde na outra unidade, não vou ter carro para me levar. O sistema permite que os alunos se matriculem nas duas unidades, mas não há transporte para permitir que eles assistam aula nos dois locais”, explicou o professor Cristiano, acrescentando que as duas cidades ficam a aproximadamente seis quilômetros de distância.
Violência nos campi
Em todos os campi, um dos problemas que vem crescendo de forma acelerada é o da violência. O caso mais recente aconteceu no dia 15 deste mês, em Mamanguape. Uma aluna foi assaltada dentro da universidade ao sair da aula. O ladrão teria pulado o muro da instituição e aguardado a estudante sair da sala para surpreendê-la. A jovem foi abordada pelo homem, que estava armado e fugiu levando o celular dela.
Segundo Cristiano Bonneau, já foram registrados até mesmo casos de vigilantes assaltados. Há cerca de dois meses, profissionais da segurança do campus foram feitos reféns e tiveram as armas roubadas. “Há pouca segurança e pouca iluminação no campus e nas imediações e a sensação de medo é muito grande”, afirmou.
A insegurança é grande também no campus de Areia. No mês de maio, três alunas foram espancadas durante um assalto quando retornavam para casa depois de jantar no Restaurante Universitário. Dois homens de moto abordaram as jovens em um trecho próximo a uma guarita do campus que estava desativada.
Segundo o professor Guttemberg Silvino, diretor da ADUFPB no campus II, é precária a segurança nas unidades de ensino de Areia e já foram registrados, além de assaltos a estudantes e professores, casos de roubo de objetos de laboratórios.
Cortes nos orçamentos das universidades
A situação das condições de trabalho e ensino deve ficar ainda mais séria com os cortes implementados pelo Governo interino nos orçamentos das universidades federais. Na UFPB, orçamento foi cortado em 60% nas despesas de capital (investimento) e de 20% nos gastos de custeio da instituição este ano. Para 2017, o governo Temer já anunciou corte de 45% no orçamento para as Universidades Federais.
É preciso que professores, estudantes e técnico-administrativos da UFPB, juntos, defendam a universidade desses ataques.
Fonte: Ascom ADUFPB