Rolando Lazarte*
Tal vez uma das características que mais definem um claro proceder, seja a que está expressa nesta breve expressão: de frente. Aquilo que é correto, o que está determinado pela nossa certeza de estarmos agindo de acordo com o bem, é feito às claras, à vista de todo mundo.
Não é assim, no entanto, que age o grupo que visa destituir a presidenta da República, Dilma Rousseff. Agem pelas costas. Acordos secretos, revelados pelas gravações recentemente divulgadas, onde manifestam as suas reais intenções por trás da máscara do “impeachment” ilegal.
Juízes, parlamentares, imprensa golpista, e os seus apoiadores, agem pelas costas. O próprio atual presidente ilegítimo, é um exemplo desta forma de agir pelas costas. Traição. FHC, Aécio, toda a ninhada tucana e seus aliados, são um exemplo claro desta forma de agir à traição.
O que é que nos resta –aos que, do lado de cá, do lado da sociedade que age às claras– frente a esta situação que parece estar já definida em favor da queda da democracia? Não há justiça, a justiça está do lado de lá, do lado de quem quer a queda da democracia.
A pregunta é longa, mas as respostas tal vez não o sejam tanto. Temos a nossa consciência. A consciência pode ter algum quê de inocente. Uma certa característica de se deixar levar. Uma certa passividade, se se quer.
Enquanto quem age para o mal premedita, confabula, calcula e pesa, nós também calculamos e pesamos, mas de outra maneira. Com outra finalidade. Desde outra perspectiva. Não para verificarmos o quanto iremos ganhar ou perder com o nosso agir. mas para termos em claro o que é e o que não pode ser, de acordo com a nossa noção do dever.
As ações do governo de exceção mostram nitidamente, um plano calculado para quebrar o Brasil. Quebrar o projeto de país includente que veio sendo construído laboriosamente, coletivamente, em todos estes anos desde a lenta apertura, ainda sob a ditadura, até pouco tempo atrás, sob os governos do PT.
O governo ilegal agride tudo quanto pode, para mostrar a que veio. Ataca os direitos sociais e trabalhistas, com a pressa de quem sabe que age fora da lei (embora tenha a justiça do seu lado). Saúde, educação, habitação, garantias trabalhistas. Tudo é agredido, com a sanha e a covardia da prepotência autoritária.
A liberdade de expressão é amordaçada. A intimidação toma conta. A incerteza se estabelece.
O que fazer? O que é que podemos e devemos fazer? As respostas são muitas e diversas. O que estamos fazendo. Continuar a agir de acordo com a nossa consciência. Somando na diferença. Crescendo na pluralidade e na solidariedade. O mal não é onipotente, embora a impunidade do seu agir tente nos convencer do contrário.
Já que não existe um judiciário que atue dentro da lei e na sua defesa, obrigatoriamente temos que tratar de ter muito cuidado para não cair nas ciladas do adversário. Manter a nossa atenção e o nosso foco no bem a alcançar: a restituição do país ao estado de direito. A volta da democracia.
O retorno da presidenta eleita ao seu cargo, para, a partir daí, decidir que passos devem ser dados para que o Brasil possa prosseguir com o seu caminho como nação independente de todo interesse estrangeiro e de toda dominação oligárquica. Um país para todos e todas. Esse é o nosso destino. Essa a nossa meta. Para frente, Brasil! De frente!
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* Sociólogo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental comunitária-UFPB.