No mais recente Boletim da ADUFPB, a delegação que participou do 65º Conad – ocorrido em Vitória da Conquista (BA), entre os dias 15 e 17 deste mês – avalia a postura “fantasiosamente” neutra e isenta do ANDES em relação às eleições de outubro próximo. Para a delegação, é uma conduta que “confirma o descolamento do ANDES de sua base, sobretudo de sessões sindicais que possuem expressiva representatividade e história de luta”. Ainda de acordo com a avaliação, o “Conad demonstrou que o burocratismo e o formalismo podem ser resistentes, mas não se sustentam eternamente mediante os conteúdos inevitáveis que a vida real nos apresenta”.
Clique aqui para para acessar o boletim em formato PDF.
Leia o texto na íntegra:
ANDES mais uma vez se esquiva como tática política sindical
O que se viu do ANDES-SN em seu último Conad, na fria Vitória da Conquista (BA), foi uma parte da categoria docente inquieta e frustrada diante de uma posição temerosa – ou mesmo acovardada – da instituição, enquanto outro segmento buscava acomodar-se ao modelo congressual de nosso sindicato nacional, de controle total das discussões e votações, estratégia que se adapta ao não conflito, em nome de uma pretensa autonomia política que mantém a entidade em um fantasioso terreno de “neutralidade” e “isenção”. Vimos esse comportamento do sindicato nacional em outras situações, tão importantes quanto, como diante do plano de carreira ora vigente na categoria docente – não assinado pelo ANDES – e durante o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, com sua omissão discursiva e de ação. Agora, na eleição mais importante da nossa história, o ANDES novamente deixa de assumir um viés mais pragmático – ou mesmo crítico – diante das eleições de outubro.
O que vemos nos grandes encontros deliberativos do nosso sindicato nacional são ambientes totalmente controlados, nos quais a previsibilidade dos resultados das votações que interessam à categoria docente beira a exatidão e confirma o descolamento do ANDES de sua base, sobretudo de sessões sindicais que possuem expressiva representatividade e história de luta. As linhas de transmissão da representação política são interrompidas por esse modelo de gestão sindical, e o resultado pode ser conferido na Carta de Vitória da Conquista: nós nos transformamos em um sindicato supostamente isento e neutro, cuja diretoria rejeita os anseios classistas da própria categoria, que se fragmenta em mil pedaços, perde força e reconhecimento, ano após ano, em consequência desse controle da instituição.
O famoso TR 9 do Conad de Vitória da Conquista propôs tão somente o envio de uma carta com as reivindicações mais básicas da categoria docente ao único candidato capaz de vencer o necrocida no poder. Na ocasião, a proposta foi rechaçada e transformada em mais um “monumento” exemplar do poder dirigente de uma instituição sindical de encaminhar à eliminação o que não lhe convém: uma carta simples, que revelaria a expectativa de uma categoria forjada na experiência democrática e desejosa de novidades epistêmicas, uma categoria que hoje sangra em cada universidade brasileira, seja pelas condições de trabalho ou pelas agruras impostas pela vida, uma categoria que deixa o Conad sem poder levar de volta às suas bases uma consigna nacional de luta e ação política.
O asno de Burindan morreu de fome, pois não sabia qual feixe de capim comer, entre dois iguais que estavam à sua disposição. Não há como haver dois feixes de capim iguais, e até o olhar menos atento perceberá uma falsa simetria entre ambos. Dessa forma, a despeito de termos sido todos bem tratados pela ADUESB em Vitória da Conquista, nossas lutas por via do ANDES sucumbiram diante das opções possíveis que nos foram deixadas, e o contexto sindical, atuando como força contrária, impôs obstáculos que não nos permitem empreender o caminho necessário, enquanto categoria docente coesa e forte.
O Conad demonstrou que o burocratismo e o formalismo podem ser resistentes, mas não se sustentam eternamente mediante os conteúdos inevitáveis que a vida real nos apresenta. Caso o referido TR e a maneira de tratamento de seu conteúdo – na busca, senão de demovê-lo da pauta, de asfixiá-lo, de torná-lo rarefeito, de alterar sua direção até torná-lo inofensivo, de fato – não contrariasse o anseio de parte significativa da categoria docente, o 65º Conad seria apenas passado, não apontaria mais para um novo horizonte. Felizmente, o futuro não se faz apenas de um passado que nos determinou até agora, mas de uma profunda esperança que pode nos contaminar sem que deixemos de ser razoáveis nem cheguemos ao irracionalismo, com a necessária coragem de assumir as ações da política transformadora. Esse registro constitui o testemunho da delegação da ADUFPB no referido encontro deliberativo. Em grande medida, sugere a posição hegemônica da nossa diretoria executiva, que nunca se furtou a tomar as decisões mais difíceis nem se esquivou de qualquer polêmica na defesa histórica da carreira docente e da universidade pública.
Delegação da ADUFPB no 65º Conad
Vitória da Conquista (BA) – Julho/2022
Fonte: Ascom ADUFPB