A força e amplitude da atual greve nas instituições federais de ensino têm levado diversos veículos de comunicação a pautar o assunto e tentar entender o porquê da mobilização. Na última terça-feira (3), a apresentadora Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, entrevistou o 1º vice-presidente do ANDES-SN, Luiz Henrique Schuch, e o professor da Universidade de São Paulo (USP), Otaviano Helene, sobre as razões do movimento grevista.
Após mostrar uma matéria sobre as conseqüências da expansão sem qualidade, que levaram os professores à greve, o programa citou uma frase do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em que ele comparou o processo “às dores do parto”. Partindo dessa frase, Mônica perguntou aos dois entrevistados se era possível uma solução para o impasse.
O representante do ANDES-SN lembrou 2012, depois de oito anos, está sendo possível ouvir, entre os docentes, o “som da greve” nas instituições federais de ensino. Os professores foram à luta porque discordam da desestruturação da carreira e desvalorização salarial promovida nos últimos anos e do novo modelo que está sendo imposto pelo governo na educação federal.
“Àquele modelo de universidade presente no texto constitucional, autônoma, que preza a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão está a se esvair e é por isso que docentes, técnico-administrativos e estudantes estão em greve”, argumentou.
Já o professor Helene afirmou que o grande problema na educação superior brasileira é a privatização do ensino, que responde pela esmagadora maioria das matrículas, com cursos de qualidade duvidosa.
“E as universidades públicas, que deveriam ser referência, estão em processo de degradação. É isso que explica a força da greve”, completou Schuch. Ele explicou que a carreira docente está totalmente desestruturada, que os aposentados têm sido discriminados, pois não recebem determinadas gratificações pagas aos ativos, e que os novos professores não encontram o ambiente adequado para se desenvolver academicamente.
A jornalista questionou se as universidades não teriam autonomia para deliberar sobre sua própria organização. “No grande pacto que a sociedade brasileira fez em 1988, com a Constituição Federal, foi estabelecido que as universidades teriam autonomia, só que ela é tolhida pelo governo com programas tipo o Reuni e, agora, com a Ebserh. Ou seja, ou aceita as condições impostas pelo governo, ou ficará sem recursos federais. É uma autonomia pela metade”, explicou Schuch.
Para o professor Helene a questão central está no financiamento para a educação. “Essa é uma barreira que precisamos transpor. O problema é que houve um aumento da demanda, mas não houve um aumento de recursos na mesma proporção” argumentou.
Mônica questionou se a greve não estava prejudicando muitas pessoas e não havia a possibilidade de os professores voltarem para a sala de aula. “A palavra está com o governo. Ele é que tem de apresentar uma proposta. O nosso interesse é concluir a greve o mais rápido possível, mas a negociação não depende só da nossa vontade”, afirmou. Ele disse, ainda, que a greve está tendo o apoio de sociedade, pois ela entende que a luta dos professores é pela educação pública de qualidade.
O programa Entre Aspas pode ser visto aqui.
Fonte: ANDES-SN