O próximo congresso do ANDES-SN, em 2023 (Rio Branco-AC), decidirá sobre a manutenção ou a desfiliação da CSP-Conlutas como central sindical de nossa categoria. Para tomar posição, a ADUFPB, por meio da sua diretoria, encaminhou duas deliberações de assembleia: 1) realizar uma enquete sobre o grau de conhecimento dos docentes em relação ao tema; e 2) acolher posições de docentes, por escrito, a serem publicadas em um boletim da entidade, para que se pudesse embasar o debate sobre essa questão na assembleia do dia 3 de novembro de 2022.
Por essa razão, estamos disponibilizando, para a categoria, os dois textos que nos foram enviados pelos professores Baltazar Macaíba (CCAE) e Fernando Cunha (CCS) – ambos foram produzidos conjuntamente com a diretoria executiva da ADUFPB. O Texto 2 nos apresenta uma posição do Fórum Renova ANDES, que vem provocando a discussão na categoria, nos últimos congressos. A posição da ADUFPB será discutida e deliberada em assembleia, para então ser levada ao Conad Extraordinário, em Brasília, nos dias 12 e 13 de novembro de 2022 – no qual se iniciará, congressualmente, a análise sobre esse importante tema.
Texto 1
Prof. Dr. Baltazar Macaíba- DCS/CCAE e Diretoria Executiva da ADUFPB
Pela desfiliação do ANDES à CSP- CONLUTAS
A Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) foi fundada em 2006, a partir das Coordenações Estaduais de Luta, surgidas em resposta à primeira reforma da Previdência do então Governo Lula (2003-2004). Foi o desfecho do rompimento de uma fração reduzida do funcionalismo público federal com a CUT, o qual atingiu uma parte do movimento sindical.
À época, a Conlutas se propunha a ser um grande movimento de base, com a ampla participação de oposições sindicais, movimento camponês, movimento popular e movimento estudantil. Ao longo do tempo, a central, via processo gradual de burocratização, foi reduzida a sindicatos de funcionários públicos, controlada politicamente pelo PSTU, configurando-se, portanto, em uma central sindical a serviço da política equivocada desse partido.
Nos últimos testes decisivos da luta de classes, a Conlutas ficou do lado da reação: em 2016, aliou-se aos golpistas e defendeu o impeachment de Dilma Rousseff e a operação Lava Jato, liderada pelo então juiz Sergio Moro; em 2018, apoiou incondicionalmente o locaute patronal das transportadoras (a famosa greve dos caminhoneiros), movimento eleitoral pró-Bolsonaro – cuja mesma base fascista bloqueia hoje as estradas do país sob o lema de intervenção militar – e contra o resultado das eleições presidenciais ocorridas no último dia 30/10/22, das quais Lula saiu vitorioso; no âmbito internacional, a Conlutas defendeu o movimento imperialista de ataque e dominação aos povos da Líbia e da Síria, em 2010 (Primavera Árabe), defendeu o golpe na Ucrânia em 2014, que resultou no massacre de milhares de trabalhadores resistentes aos fascistas ucranianos, na Praça Maidan, e marchou ao lado dos golpistas em Cuba em 2021, golpe branco. Finalmente, a central funciona unicamente como uma organização paralela do programa do PSTU no movimento sindical, sem permitir a pluralidade de ideias e contribuindo para o retrocesso na consciência da vanguarda lutadora do ANDES. Pelas razões aqui apresentadas, justificamos a desfiliação imediata da CSP-Conlutas.
Texto 2
Prof. Dr. Fernando Cunha – DEF/CCS e Diretoria Executiva da ADUFPB
Texto produzido pelo Fórum Renova Andes para o Conad Extraordinário do ANDES, em novembro de 2022, com um balanço da participação do sindicato na Central Sindical CSP-Conlutas, para deliberar se continua a ela filiada. Como um dos autores do texto, apresento-o à assembleia dos docentes da ADUFPB, como forma de subsidiar o debate para o processo de desfiliação do ANDES SN da CSP-Conlutas.
Até quando faremos balanço da filiação do Andes/sn
à Conlutas? Pela imediata desfiliação!
Passados seis anos do golpe de 2016, quando o ANDES-SN se afundou nas manifestações do “Fora todos, Fora Dilma” (forma disfarçada de apoiar o golpe), com apoio da CSP-Conlutas, temos hoje a tarefa – definida pelo Congresso do ANDES – de fazer uma avaliação do papel dessa central sindical na conjuntura nacional. Durante o período de ataque lava-jatista ao ex-presidente Lula, assistimos ao surgimento de comitês de resistência nas IES, todavia, a direção de nosso sindicato não tirou lições da situação. Desde o golpe dado na presidenta Dilma Rousseff, a escalada de destruição das universidades e da educação pública brasileira só aumenta.
Em 2016, quando passávamos por um momento crítico, em que o capital internacional e os setores patronais buscavam consolidar o golpe em curso, com o governo ilegítimo de Temer avançando nos ataques ao povo brasileiro, o ANDES-SN, seguindo a política da CSP-Conlutas, hesitou em convocar o “Fora Temer”. Posição tirada com atraso durante o 61º Conad, quando a maioria das organizações sindicais e populares já levantava essa consigna. Como pode um sindicato como o ANDES-SN se atrasar em questões centrais para o país? Pior: além desse atraso, a diretoria do ANDES-SN, seguindo mais uma vez a política da CSP-Conlutas, recusou-se a reconhecer que tivemos um golpe no país e refutou propostas de resoluções de delegados que defendiam o “Fora Temer”, sem reconhecer que o seu governo ascendeu por golpe. Curiosamente, ainda em 2016, a direção do ANDES-SN se sentou para dialogar com os interventores golpistas do MEC.
A política vergonhosa da CSP-Conlutas levou o nosso sindicato a um isolamento irresponsável dentro da classe trabalhadora. Os mesmos que afirmavam que o impeachment da presidenta Dilma não havia sido um golpe, até mesmo comemorando – “a primeira já foi, agora falta o resto” –, afirmaram também que Lula não foi um preso político e que deveria, mesmo, estar na cadeia. Fato no mínimo estranho, um sindicato revolucionário defender a legitimidade da justiça burguesa, claramente vendida. Defender a liberdade de Lula, que estava preso devido à “ditadura do judiciário” apoiada pelas instituições podres de nossa nação, era defender a democracia. Hoje, Lula foi inocentado e as suas sentenças, anuladas.
Esses são alguns elementos que precisamos levar em consideração e que ainda rebatem na política da direção do ANDES-SN dentro do movimento docente. Até hoje, o ANDES-SN não reconheceu esse golpe que resultou na intensificação dos ataques não só à educação, mas ao conjunto da classe trabalhadora, com a aprovação da EC 95, reformas trabalhista e previdenciária, desemprego, fome, miséria e a eleição fraudulenta para presidente de Jair Messias Bolsonaro. A que conclusão chegamos, quando avaliamos a influência da CSP-Conlutas na política da direção do ANDES-SN, levando em consideração esse período crucial para toda a nossa categoria, a classe trabalhadora e o povo brasileiro?
Nos últimos anos, a diretoria do ANDES-SN tem se recusado a fazer um verdadeiro balanço da sua filiação à CSP-Conlutas, sempre com rodeios, ignorando o direito de discussão aos seus filiados, embora a maioria das resoluções de congresso apontem para a necessidade de “estimular as seções sindicais a realizarem discussão e balanço sobre a CSP-Conlutas e a participação do Sindicato na central”, como está registrado no 35º Congresso, de 2016. No congresso do ano seguinte (2017), foi aprovado que, por meio do GTPFS, “materiais seriam enviados às seções sindicais para subsidiar o debate sobre o balanço político da CSP-Conlutas e as deliberações do 62º Conad”. Porém, mais uma vez, nada foi encaminhado. No 37º Congresso, em 2018, foi aprovada a resolução que afirmava que “o 37º congresso do ANDES-SN decide abrir, em todas as seções, um amplo debate de balanço de filiação do sindicato à CSP-Conlutas, que culminará num Conad Extraordinário, destinado exclusivamente a este debate, com vistas a decidir sobre esta filiação no próximo congresso”. De novo, tais ações ficaram no meio do caminho e impediram um verdadeiro balanço. O Conad Extraordinário com tal pauta não ocorreu, em desrespeito à decisão congressual. Em 2019, no 38º Congresso, nenhum tipo de discussão ou encaminhamento foi realizado.
A política de “empurrar com a barriga” a decisão de desfiliação do ANDES-SN à CSP-Conlutas tem colocado o nosso sindicato nacional num isolamento tal, que não participamos, juntos com as demais entidades da educação brasileira, do Fórum Nacional Popular de Educação – FNPE espaço central de construção da unidade necessária com os trabalhadores em educação do país. No 39º Congresso, tivemos vários Textos Resolução (TRs), inclusive provenientes de assembleias, que apontaram a necessidade de desfiliação, mas saímos, outra vez, sem uma definição. Tendo, a discussão sido novamente protelada para outro Conad Extraordinário, aprovando a seguinte resolução: “5. Que o ANDES-SN amplie o debate nas bases sobre a construção da CSP-Conlutas, realizando balanço sobre sua atuação nos últimos dez anos e sua relevância na luta de classes e a permanência ou desfiliação da Central, com: 5.1 Organização via secretarias regionais e seções sindicais de debates preparatórios nos estados; 5.2 Realização de um Conad Extraordinário no segundo semestre de 2020. As indicações do Conad Extraordinário devem ser levadas para deliberação no 40º Congresso do ANDES-SN”. Nesse meio tempo, tivemos uma pandemia de covid-19, com quase 700 mil mortos – e, mesmo com tudo isso, o 40o Congresso do ANDES também não tomou nenhuma decisão em relação à CSP-Conlutas, ficando esse debate para este Conad Extraordinário.
Até o momento nada foi sequer parcialmente encaminhado. Somando esse histórico aos elementos da política da CSP-Conlutas, que repercutiram negativamente na política do nosso sindicato nacional nos últimos anos, faz-se premente, finalmente, realizar esse balanço de forma conclusiva e responsável. Quando analisamos a postura da CSP-Conlutas no cenário internacional e tomamos como exemplo a América Latina, não é mera coincidência que as reivindicações que esta central defende caminhem lado a lado com setores reacionários ligados ao imperialismo. A sua campanha de “Fora Maduro”, quando a Venezuela era ameaçada dia e noite pelo imperialismo estadunidense, é um absurdo sem precedentes.
Considerando o exposto, temos certeza de que é hora de nos libertarmos – e, também, de libertamos o ANDES-SN – das amarras impostas por essa central sindical extremista, isolacionista e divisionista. O ANDES-SN não pode mais ser conivente com a política divisionista e pró-imperialista da CSP-Conlutas. Não é de hoje que precisamos de uma central que esteja conectada com as lutas e o conjunto da classe trabalhadora, porém, com a crise mundial do capitalismo e todas as explosões sociais que estão acontecendo no mundo, mais do que nunca, nós, docentes, precisamos que o nosso sindicato nacional não fique isolado. O ANDES-SN deve se integrar às ações articuladas entre as organizações sindicais e populares e cumprir um papel ativo no próximo Governo Lula. Muita mobilização será necessária para que tenhamos reposição salarial e ampliação do orçamento das universidades, IFs e colégios técnicos. Mobilização, sim – mas sem o radicalismo infantil da CSP-Conlutas.
Por isso, indicamos aos docentes da ADUFPB:
1. Desfiliação imediata do ANDES-SN da CSP-Conlutas.
2. Discussões, desde a base – nas ADs e fóruns do ANDES-SN –, sobre relações intersindicais e as várias possibilidades de filiação (ou não) a centrais sindicais durante 2023, a serem concluídas no 41o Congresso.
Textos publicado no Boletim da ADUFPB – Edição 220 – 02 de novembro de 2022. Acesse o boletim na seção Boletins e ADUFInforma
Fonte: Ascom/ADUFPB