A conjuntura de crise em curso no país exige uma enorme capacidade crítica para entender a dinâmica do atual acirramento da disputa político-ideológica que ultrapasse o maniqueísmo simplista de muitas leituras correntes, presas na armadilha da dualidade “governistas versus golpistas”.
A presente crise política é gravíssima e pode resultar num quadro de profundas derrotas para o conjunto da classe trabalhadora, expressas na cassação de liberdades, destruição de direitos e eliminação de mecanismos e processos democráticos.
As manifestações dos últimos dias 13 e 18 de março, que são qualitativamente diferentes, colocam enormes desafios que temos pela frente. O desenrolar das ações do juiz federal Sérgio Moro, iniciadas com a condução coercitiva do ex-presidente Lula e coroadas com a divulgação de escutas telefônicas envolvendo a Presidente da República, foram responsáveis por incentivar as manifestações pró-impeachment e pró-governo. Mas o juiz Moro, ao divulgar as escutas telefônicas, acabou por revelar a associação de seus atos com os daqueles setores que desenvolvem uma arquitetura nitidamente conspiratória.
O conjunto dos acontecimentos recentes mencionados acima exige uma clara tomada de posição frente a esses novos acontecimentos. É lógico que há um setor claramente apoiando o governo em todas as suas ações, mas há também pessoas que criticam várias ações do Governo Federal e, ainda assim, apoiam o governo.
Nas manifestações contra o golpe em gestação, devem estar presentes – assim como estiveram no ato do dia 18, incluindo a nossa entidade, ADUFPB – pessoas que expressam um setor que não tem qualquer solidariedade às práticas equivocadas (que, aliás, devem ser apuradas, investigadas e caso comprovadas, punidas). Manifestantes que têm expressado críticas contundentes aos governos do PT e às suas plataformas, incluindo suas alianças, mas que identificam que, da última quarta-feira (16/3) para cá, a conjuntura ficou muito mais complexa e revelou uma nítida ação golpista.
A política em curso no País desde o primeiro governo Lula tem revelado opções claras por uma aliança com setores da burguesia, que vem resultando em ações direcionadas contra inúmeros direitos da classe trabalhadora, como a recente proposta de reformas na Previdência, os cortes do orçamento na Saúde e Educação e as terceirizações. Elas são emblemáticas desses ataques aos direitos e das opções dos governos Lula e Dilma. Neste campo não há como fazer concessões à política posta em prática por esses governos. Ao contrário, temos denunciado e enfrentado essas questões.
Todavia, a conjuntura nacional tem sofrido profundas alterações de forma assustadoramente rápida. As ações do Poder Judiciário, do Congresso Nacional e da grande mídia – essa última, em geral, identificada como as das organizações Globo, mas o campo é bem maior – têm posto em marcha setores que clamam pela direita, pelas Forças Armadas, pois são contra a democracia, as organizações de esquerda, as bandeiras dos movimentos LGBT, das Mulheres, do MST, dos Sem Teto, e de forma raivosa contra a população pobre do País.
Quanto a isso não podemos titubear: somos contra qualquer tipo de Golpe no Brasil e temos que fazer um enorme esforço de unidade classista em torno da defesa das lutas e das organizações dos trabalhadores. A cultura fascista em plena ascensão no País não distinguirá, nas ações que empreenderá, usando toda a sua truculência, os objetos de sua agressividade. Qualquer sujeito social que, minimamente, se oponha aos seus desígnios será, certamente, atingido: entidades representativas de movimentos populares, sindicatos e partidos de esquerda.
A presença nas ruas, neste momento, não é uma defesa formal do Estado de direito, mas é preenchida, com densidade, pelo que ele significa como patamar a partir do qual é possível, hoje, lutar por horizontes de maior democracia e justiça social para o nosso País.
Justiça essa que, para ser alcançada, não pode prescindir da derrubada da lei Antiterrorismo recentemente sancionada (15/03) pela presidente Dilma, nem da revogação do último pacote de medidas de “enxugamento” do serviço público, que dá continuidade ao ajuste fiscal e penaliza os trabalhadores em geral.
Nosso maior desafio é tentar contribuir para a construção de ações de massa, que possibilitem a defesa das lutas e das organizações da classe trabalhadora. Esse é o desafio do qual não abrimos mão!
João Pessoa, 23 de março de 2016.
ADUFPB- Diretoria Executiva