Cada um de nós é um ser ímpar, por atendimento à natural força da nossa individualidade como elos na imensurável e inextricável teia da vida. Partindo desse pressuposto, ousarei realçar um item daquilo em que, me parece, assenta-se a imparidade do meu dileto amigo Abdoral. Para tanto, tomarei a matemática como fio condutor.
Essa era uma de suas mais caras paixões, mas mesmo a infinitude dela foi insuficiente para preencher o vastíssimo repertório passional dele. Com isto, quero dizer que a matemática em si não o saciava. Repito: era apaixonado pelas coisas da matemática, mas era igualmente apaixonado pela matemática das coisas belas. Coisas, aqui, são um rótulo para, por exemplo, a matemática do vôo e do trinado de um pássaro; a matemática presente nas artes, na música, na poesia, na literatura, nas várias engenharias, na mecânica dos automóveis, no movimento dos corpos celestes, na nanotecnologia, e, muito especialmente, nos ofícios de esmerados artífices como seu Chico Oliveira.
Neste momento, em que simbolicamente nos despedimos do Mago Abdoral, vem-me à lembrança trecho de uma belíssima composição de João do Vale e Luiz Vieira, ícones do nosso cancioneiro popular. Trata-se de “Na Asa do Vento”, que juntos, por muitas vezes, ouvimos, cantamos ou cantarolamos:
“Deu meia-noite, a lua faz um claro
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
A aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, viu?
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, tá?
Muita gente desconhece”
João Pessoa, 01 de fevereiro de 2012.
Caboco Sales
A missa de sétimo dia será na próxima segunda-feira (06.02.2012), às 17h, na Igreja Santa Júlia
(bairro da Torre, em João Pessoa).