A ADUFPB lança nesta segunda-feira (7) a primeira edição do boletim “Em Tempo”, publicação que tem como objetivo contribuir para as ações de resistência e mobilização no país. A proposta é publicar textos opinativos e analíticos sobre a atual conjuntura política brasileira, mobilizando a sociedade em torno da luta contra as práticas antidemocráticas do governo Bolsonaro.
Em meio a uma pandemia que está perto de vitimar meio milhão de brasileiros, o país ainda enfrenta a falta de uma política forte de renda mínima para confrontar os efeitos econômicos da crise sanitária. Além disso, assiste, com revolta, ao descanso de um governo que ironiza o uso de máscara, o isolamento social e a vacinação em massa, medidas recomendadas pelos órgãos de saúde para evitar a contaminação pelo coronavírus, em mais uma tentativa de desacreditar a ciência.
Apesar do momento de crise, a ADUFPB aposta na potência da luta organizada. E, para estimular o pensamento crítico e buscar em conjunto caminhos de resistência e mudança, irá publicar textos analíticos sobre a atual conjuntura produzidos por autores convidados. A primeira edição do boletim “Em Tempo” começa a circular hoje nas redes sociais do sindicato e está disponibilizada no site (www.adufpb.org.br).
Nesta edição de estreia, o “Em Tempo” traz um editorial do projeto, denunciando os ataques à educação pública e às universidades num momento em que a sociedade tanto precisa do saber científico. Aponta, ainda, o quadro de mortes deixado pela pandemia e potencializado pela irresponsabilidade e desrespeito do governo federal. Mas o boletim não se encerra em tom de derrota, mas de resistência e esperança.
“Não há dúvidas de que a hora da cobrança está próxima. Já se pode ouvir o chamamento às ações e manifestações coletivas. Nas ruas, milhares de pessoas arriscaram suas vidas para denunciar que o governo é mais letal que o vírus. Nas redes sociais, as forças progressistas e democráticas assumem os comandos da comunicação virtual e os reacionários já começam a recuar”, conclui o editorial do boletim.
Clique aqui para baixar o “Em Tempo” em formato PDF ou leia abaixo a primeira edição na íntegra:
Espaço de expressão e luta
Os tempos que correm apresentam-se como grande desafio a cientistas e intelectuais de todas as áreas, especialmente no Brasil, onde o enfrentamento da crise pandêmica ocorre em uma conjuntura política em tudo adversa à produção do conhecimento. Entre nós, no momento em que mais se deveria impulsionar programas acadêmicos, fomentar estudos, pesquisas e inovação nos mais diversos campos dos saberes universitários, o negacionismo propagado pelo próprio governo federal, reiteradamente expresso em sua néscia recusa à ciência, tem se manifestado em repetidos ataques às universidades públicas.
Não têm sido poucas, nem pouco violentas, as tentativas deliberadas do governo no sentido de impactar negativamente a organização e o funcionamento das instituições de ensino superior. As agressões e abusos praticados contra as universidades incluem um amplo espectro de violações: desde a propagação de calúnias, ofensas e notícias falsas, que tentam fomentar o descrédito em relação às instituições e aos docentes, passando por gestos reiterados de imposição de censura, até drásticas reduções de verbas, cortes de bolsas e editais, desmonte de direitos trabalhistas e proposição de reformas que subtraem conquistas históricas da categoria docente. Não menos graves e corrosivos têm sido os atentados à democracia e à autonomia institucional, com a nomeação de interventores ilegítimos para a ocupação dos cargos máximos da gestão universitária.
Em meio à crise, não tem sido fácil vislumbrar saídas. As carências estruturais das universidades sequer permitem planejar um retorno às atividades presenciais a curto ou médio prazo, e as demandas do ensino remoto, assim como as novas formas de vida decorrentes do isolamento social, dificultam a organização da categoria docente para a militância. Isso não quer dizer que não estejamos tomados pela indignação, atentos e reativos a cada medida que nos afeta, que agride nossos direitos e ameaça princípios éticos e democráticos fundamentais à organização salutar dos setores e serviços institucionais. Pelo contrário, embora não sejam ainda conclusivos os resultados das lutas que temos travado contra cada um desses ataques, o acúmulo de medidas já adotadas, os processos em andamento e a crescente indignação da comunidade universitária e extrauniversitária, expressa nas mais contundentes avaliações e reações críticas, convergem para anunciar que em breve novos tempos virão.
Não poderíamos deixar de ressaltar, como motivo maior de consternação e revolta neste amplo cenário de tribulações, os impactos lutuosos da própria pandemia, que já colheu mais de 450 mil vítimas em sua impiedosa marcha. Essas perdas, que têm devastado o cotidiano de tantos lares brasileiros, embora nos digam insistentemente que o desafio maior neste presente tormentoso é sobreviver, também nos instam a cobrar responsabilidades por tantas mortes, a maioria das quais evitáveis, houvesse este governo genocida adotado as medidas preventivas estabelecidas por cientistas e autoridades sanitárias no mundo inteiro. A recusa do presidente à aquisição das vacinas selou a política de morte plenamente evidenciada nos mais variados meios de comunicação midiática e agora investigada na CPI da pandemia. Que sejam culpabilizados cada um dos apoiadores desse genocídio é o compromisso inamovível que precisamos assumir. Os sobreviventes desta tragédia anunciada haverão de cobrar nas ruas e na Justiça cada uma das atrocidades cometidas contra uma população fragilizada e perversamente instada à divisão num país cruelmente injusto, desumanamente desigual.
Não há dúvidas de que a hora da cobrança está próxima. Já se pode ouvir o chamamento às ações e manifestações coletivas. Nas ruas, milhares de pessoas arriscaram suas vidas para denunciar que o governo é mais letal que o vírus. Nas redes sociais, as forças progressistas e democráticas assumem os comandos da comunicação virtual e os reacionários já começam a recuar.
Em tempo: é neste contexto de resistência, de luta e, sobretudo, de esperança, que inauguramos este espaço de escrita, para compartilharmos nossa compreensão sobre a atual conjuntura, trazendo informações de qualidade que inspirem e fortaleçam o movimento docente. Nossos colaboradores são professores e pesquisadores de várias áreas do conhecimento acadêmico, cujas reflexões e análises críticas sobre temas e problemas que nos afetam neste momento certamente nos ajudarão a fazer avançar a luta pelas causas que defendemos.
Lutemos pela Ciência, pela Educação, pela Saúde!
Lutemos pelo direito incondicional à vida
e ao trabalho digno!
Fora, Bolsonaro! Fora, interventores!
Viva a democracia!
Fonte Ascom ADUFPB