Por Kelvin Melo – ADUFRJ
No dia 26, foi aberto o 29º Congresso do ANDES-SN, em Belém (PA), sob a organização da Adufpa-SSind. O evento tem como tema a “Contrarreforma Universitária, ataques à carreira e ao trabalho, desafios do ANDES-SN na luta em defesa da Universidade Pública”.
O presidente do ANDES-SN, Ciro Correia, observou que “não será pequeno o desafio” da entidade no enfrentamento das lutas da conjuntura. Mas, ao mesmo tempo, ressaltou que será um período rico em debates pelo próprio processo eleitoral que o Sindicato vai vivenciar nos próximos meses de 2010: “Para além da grande responsabilidade de fazer parte da direção do Sindicato Nacional, nós precisamos, nesse momento, ter compreensão desse desafio, uma vez que todas as políticas para o ensino têm se transformado em políticas de desconstruir todo o projeto de universidade que esse Sindicato e outros setores da sociedade conseguiram, com duras lutas, manter”.
Representante da administração central da Universidade Federal do Pará (UFPA), o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor Emmanuel Zagury Tourinho, saudou todos os presentes e desejou “debates profícuos, em particular, sobre a universidade pública brasileira, que ainda impõe muitos desafios para se tornar a universidade dos nossos sonhos, o que depende fortemente da luta de seus movimentos, de docentes, técnico-administrativos e dos estudantes”.
Pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPA, Anderson Roberto Melo de Castro observou que Belém sedia um congresso do Andes-SN em uma conjuntura muito especial, em função dos efeitos da crise econômica mundial. Nesse contexto, lembrou a importância do Sindicato Nacional em defesa do ensino público e dos direitos sociais: “Ao contrário da CUT e da UNE, o ANDES-SN se manteve forte nas lutas. Somos tachados de baderneiros, de subversivos. Mas se ser subversivo é lutar pela educação verdadeiramente pública, democrática e popular, então subvertamos a ordem. Viva o Andes! Viva o DCE da UFPA!”, exclamou.
Como é tradição nos eventos do ANDES-SN, foi aberta a participação de outros movimentos sociais nos discursos da mesa de abertura. Em nome do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Dion Monteiro destacou a luta das comunidades da região contra a construção de uma usina hidrelétrica em Belo Monte, localizada no rio Xingu, a 740 quilômetros da capital paraense.
Evaldo Silveira, pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) tomou como referência o tema central do Congresso e citou a construção conjunta de uma carreira única como um importante caminho de luta das duas categorias.
José Maria de Almeida, um dos coordenadores da Conlutas, chamou a atenção em sua intervenção para a crise no Haiti e a reorganização da classe trabalhadora no país.
A diretora-geral da Seção Sindical dos Docentes da UFPA (Adufpa-SSind), Sandra Moreira, frisou a importâncias das lutas que estão por vir: “É com esse espírito que conclamo a nossa classe para se unir contra o mal comum, desejando que este 29º Congresso do Andes-SN seja um marco decisório na vida de todos nós. Saudações cabanas”, encerrou, em referência ao movimento revolucionário da cabanagem, em Belém, no século XIX.
Maria Socorro Aguiar, 1ª vice-presidente da Regional Norte II do ANDES-SN, analisou a conjuntura cada vez mais desfavorável: “Vai nos trazer grandes desafios e temos que formar um plano de lutas à altura. Alguns itens são de fundamental importância, como a defesa do nosso Sindicato, o legítimo representante da nossa categoria; a luta pela nossa carreira e a questão da reorganização da classe trabalhadora. Os trabalhadores podem formar suas frentes de ações, mas a construção de uma ferramenta única será um ponto fundamental contra um dos governos burgueses mais perversos da nossa história, o governo de Lula da Silva”, afirmou.
Convidado haitiano emociona congressitas
Outro convidado do Sindicato Nacional, o militante haitiano Franck Séguy, emocionou os congressistas com a história de resistência do povo daquele país. Séguy, que completou seu mestrado em Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco, no fim do ano passado, foi surpreendido com a notícia do primeiro terremoto, em 12/1, poucos dias antes de embarcar de volta para o seu país.
De acordo com o militante haitiano, o período que se seguiu aos terremotos, com a chegada de milhares de soldados norte-americanos, significa a quarta vez, na história, que os EUA ocupam o Haiti: “Nem o governo brasileiro, nem o americano mandam médicos, enfermeiros; mandam apenas militares. Como se fosse uma situação de guerra. Isso deixa claro que a intenção não é com o povo haitiano, mas explorar a mão de obra, que é a mais barata da América Latina”, denunciou. Ressaltou, ainda, que um professor, considerado como figura emblemática de oposição ao governo, foi assassinado duas horas antes do primeiro terremoto. E que outros opositores estão sendo procurados pelo exército local, que poderia matá-los e simplesmente incluir seus nomes na contagem de mortos pelo terremoto. Franck Séguy, que duvida do envio de ajuda financeira nos montantes anunciados pela mídia, pediu apoio não apenas para as vítimas do país, mas para a resistência da classe trabalhadora: “É nessa situação que os governos americano e haitiano estão aproveitando para fazer mais repressão. Por isso, pedimos a retirada das tropas do Haiti”, afirmou, antes de ser aplaudido de pé pelos congressistas.
Em homenagem aos milhares de mortos no país, ainda foi realizado um minuto de silêncio, durante a plenária de abertura do 29º Congresso.
Fonte: ADUFRJ – Seção Sindical