O Laboratório de Antropologia, Política e Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (LAPA/UFPB) realiza nesta quarta-feira, 22, a roda de diálogos “Deixar morrer, deixar matar – Genocídio indígena, perseguição institucional e políticas de destruição no Brasil atual”. O evento será on-line, a partir das 19h, com transmissão pelo canal do LAPA no YouTube.
Com mediação do antropólogo Estêvão Palitot, professor do Departamento de Ciências Sociais do campus Litoral Norte da UFPB, a roda de diálogos terá participação da também antropóloga Jaciara Tabajara, do indigenista Michael Guedes e do engenheiro florestal Poran Potiguara.
“Esse evento foi motivado por duas manifestações. Uma é o apoio constante à luta dos povos indígenas, e a outra, o apoio aos servidores da Funai [Fundação Nacional do Índio], que estão em estado de greve devido aos últimos acontecimentos que vitimaram Bruno e Dom”, explica o professor Estêvão Palitot.
Ele se refere ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e ao jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos no dia 5 de junho no Vale do Javari, no estado do Amazonas. Após alguns dias de de investigação, a polícia prendeu dois suspeitos, que confessaram o assassinato, e localizou restos mortais e o barco onde os Bruno e Dom viajavam.
O crime chamou a atenção da comunidade internacional para a violência na região da Amazônia e a falta de ação do governo federal na repressão aos crimes ambientais e o tráfico de drogas. “A gente se soma, enquanto docente e grupo de pesquisa, a esse momento de parada, reflexão e crítica diante do horror que estamos vivendo no Brasil”, afirma Estêvão Palitot.
Segundo ele, o título da roda de diálogos desta quarta-feira – “Deixar morrer e deixar matar” – é uma denúncia à política do governo Bolsonaro, que age amparado na ideia liberal do “deixar fazer, deixar passar”, e que transforma esse princípio no “direito de matar”. “O título do evento tem a ver com essa lógica perversa ultraliberal de que, quando você deixa forças livres – seja a força do mercado, seja a força dos mais fortes -, que é o projeto do governo Bolsonaro, o efeito é o ‘deixar morrer’”, explica.
Como exemplo disso disso, ele cita as quase 700 mil mortes da covid-19 no Brasil, o genocídio dos povos indígenas e a política de desmonte dos órgãos de Estado que fiscalizam o meio ambiente, as terras indigenas e a reforma agrária. “O governo chegou a, no auge da pandemia, negar o abastecimento de água para as aldeias indígenas”, denunciou Estêvão Palitot.
Impunidade
O “deixar matar”, segundo ele, é a sequência lógica do “deixar morrer”, com a certeza de que os mais fortes poderão agir impunementes, sem a interferência do Estado. O professor avalia que o desmonte do aparelho do Estado – com cortes de recursos – e a perseguição institucional aos servidores públicos – com a prática, por exemplo, de exonerações forçadas – provocam a sensação de ausência do Governo no controle e repressão de atos ilícitos.
“A situação no Brasil é de uma verdadeira política de destruição. E a gente quer denunciar, ao mesmo tempo em que estamos produzindo uma reflexão sobre isso. A gente não pode ficar parado em uma situação desse tipo. Tudo está sendo colocado como mira. O ‘deixar a boiada passar’ é o ‘deixa morrer e o deixar matar’. Esse evento visa discutir isso para estabelecer esse diálogo junto com indigenistas e indígenas”, conclui o professor Estêvão Palitot.