Rolando Lazarte*
Quando me faço a pergunta Qual tem sido a minha experiência?, sou eu quem vem como resposta. Eu sou a minha experiência. Eu sou a experiência que tenho acumulado ao longo da vida. Tenho experimentado com esta pergunta, e é isto que estou partilhando aqui e agora: Qual tem sido a minha experiência?
Temos um vislumbre do nosso ser total quando nos fazemos esta pergunta. Vem a nós uma imagem, um solo firme. A consolidação de tudo que foi vivido, vem a nós como resposta. Esta pergunta tem, por tanto, uma força enorme. Quando me pergunto pela minha experiência, venho a mim como um sujeito total, além dos meus papéis.
Posso me ver – e é disto que se trata: é uma vista, uma imagem, uma visão – como unidade, posso me ver como uma totalidade, além dos meus papéis. Não há nada de errado com os papéis sociais, a não ser que eles grudam na pele ao ponto de que já não sabemos mais quem somos: achamos que somos um marido ou uma esposa, um filho ou uma filha, um militante ou uma militante, e por aí vai. Somos isso, somos um filho, militante, o que for, mas somos algo a mais: somos um sujeito que experimenta.
Quando me faço a pergunta Qual tem sido a minha experiência?, vem um silêncio que logo mais é preenchido por uma sensação de solidez, de firmeza. Vem a mim a soma total de todos meus passos. Tudo que eu andei, fiz, falei, aprendi, vem a mim de maneira unificada. Eu sou tudo isso. Quando tenho esse vislumbre do ser total que sou, já não me confundo com meus pensamentos ou reações, tomo distância com relação a eles. Posso me ver como algo distinto das ideias que tive ou ainda tenho sobre mim: quebra-se a identificação. A sensação que vem é a de um espaço, um respiro, um alivio.
Não preciso estar me exigindo ao máximo o tempo todo. Posso me dar uma trégua. Posso admitir que sou um ser limitado, como todos os demais. Não sou um super-homem, sou apenas alguém que experimenta. Alguém que vai tateando, vai tentando. Às vezes acerta, outras erra e tropeça, corrige o rumo e segue, prossegue, descansa. Um ser humano.
A Terapia Comunitária Integrativa abre um espaço para esta escuta interna. As pessoas podem se ver como algo que conflui com tudo que existe. Apaga-se em boa medida a angústia por um desempenho sempre melhor, a angústia pela morte, tão humana, começa a se dissolver, na medida em que vamos nos naturalizando.
Da mesma forma que as folhas caem e que tantos seres queridos já se foram, um dia será a nossa vez. Não tenho pressa em que chegue essa hora, mas acho que esta caminhada da TCI, que é um eco de caminhadas anteriores e contemporâneas da humanidade, é uma ferramenta preciosa para que cada um de nós, cada pessoa humana, se re-integre ao ciclo da existência.
*Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da UFPB.
http://rolandolazarte.blogspot.com/ e http://rolandolazarterapeutacomunitario.blogspot.com