O reinício das aulas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) já foi adiado cinco vezes e o segundo semestre de 2016 ainda não tem data para começar. Segundo a reitoria da instituição, os adiamentos ocorrem por falta de condições para manter a segurança e a limpeza dos campi, devido ao atraso nos salários de funcionários e no pagamento dos fornecedores e ao não pagamento das bolsas estudantis.
Na última segunda-feira (27/3), os professores realizaram assembleia geral para discutir o anúncio feito, na sexta-feira, pelo governador Luiz Fernando Pezão de que cortaria 30% dos salários da categoria. Segundo os docentes, o ataque à categoria foi divulgado justamente na semana em que cerca de R$ 300 milhões (desviados por corrupção do governo no qual Pezão atuou como vice-governador) foram devolvidos ao Estado.
Os docentes estão até o momento sem receber o salário referente ao mês fevereiro e o décimo terceiro de 2016. Em nota divulgada por meio das redes sociais, a categoria denuncia também que o governo não repassa a verba para manutenção e custeio da UERJ, que estudantes estão sem bolsas, que a universidade está sem trabalhadores de limpeza e de manutenção por falta de salários desde fevereiro e que não existe previsão de nova licitação para a contratação.
“Pezão não quis reduzir os supersalários dos secretários, mas joga nos trabalhadores da UERJ a conta da crise. Não recebemos aumento salarial há doze anos! A única forma de reajuste que existe para a nossa categoria é por meio dos triênios (5% a cada três anos, índice muitíssimo mais baixo que a inflação!) e através de ascensão em plano de carreira que corresponde a índices de produtividade acadêmica e tempo de serviço”, informa a nota que vem sendo divulgada pelas redes pelos professores da Universidade.
Na assembleia da última segunda-feira, a categoria decidiu manter o estado de greve que já havia sido decretado anteriormente. Segundo a presidente da Associação dos Docentes da Uerj, a professora Lia Rocha, em entrevista à Agência Brasil, isso não significa que os docentes, que também são pesquisadores, não estejam trabalhando. “Cheguei atrasada à assembleia porque estava na banca de fim de curso de uma aluna da graduação, que precisa se formar para assumir um cargo público”, afirmou Lia.
Para a professora, a declaração do governador é uma declaração de guerra, não resolve o problema. “O problema da Uerj é de orçamento: dos 12 elevadores no campus, apenas um está funcionando. É uma situação que ultrapassa o limite de precariedade com que já trabalhávamos.”
O estudante do programa de pós-graduação em educação Felipe Duque, de 30 anos, é um dos poucos que continuam a ter aula. Alguns dos mais de 50 cursos de pós-graduação continuam funcionando, mas, segundo Duque, está cada vez mais difícil frequentar o curso. “Não há elementos básicos para a continuidade e regularidade das aulas. Faltam papel higiênico, água, alimentação, não tem xerox aberta. A secretaria está fechada, pois os técnicos estão em greve. São vários empecilhos”, afirmou o estudante, que é a favor da paralisação.
De acordo com Duque, é preciso fazer um diagnóstico, integrar a corrente de reivindicações dentro da universidade para “não deixar a UERJ, que ainda é uma das melhores a América Latina, se apagar”.
Confira vídeo gravado pelos professores da UERJ denunciado a situação de caos na instituição.
Fonte: Ascom ADUFPB, com informações da Agência Brasil