No final de 2011, a presidente Dilma Rousseff, em entrevista à imprensa, declarou que o governo não concederia reajuste geral aos servidores em 2012, alegando que é preciso conter gastos em função da crise econômica mundial. O discurso dilmista se reproduziu no Congresso Nacional, que no dia 22 de dezembro, aprovou o orçamento para este ano sem previsão de aumento ao funcionalismo. Entretanto, toda essa argumentação governista não se sustenta.
Conforme o professor do departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ricardo Rondinel, os números mostram que os gastos do governo com a folha de pagamento estão em um dos menores patamares da história.
Nos cálculos de Rondinel, que também já foi presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFSM de 1994 a 1996, enquanto no ano de 1995 (governo FHC), a relação entre despesas de pessoal e receita da União era de 29,8%, em outubro deste ano (2011) esse percentual correspondia a 16,7%, o que demonstra que o comprometimento com gastos da folha de pessoal caiu quase pela metade em 16 anos.
Quando se observa a relação entre despesas de pessoal e receita corrente líquida da União, ou seja, excluindo transferências constitucionais legais, Pis/Pasep e benefícios previdenciários, torna-se ainda mais perceptível que os gastos do governo têm caído ao longo das duas últimas décadas. Enquanto em 1995, o percentual que o governo comprometia era de 56,2%, em 2000 havia caído a 37,8%, em 2010 (governo Lula) era de 33,3% e, em outubro de 2011 (governo Dilma) já estava em 29,3%, bem abaixo do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de no máximo 50%.
Para o professor de Economia, os dados ressaltam que tanto no governo Lula como no atual, de Dilma Rousseff, a prioridade tem sido o capital financeiro, ou seja, o pagamento de juros que beneficiam diretamente os banqueiros.
Enquanto as despesas com pessoal e encargos sociais aumentarão de 199 bilhões de reais (2011) para 203 bilhões de reais (2012), quer dizer, um aumento de 4 bilhões de reais, no que se refere aos gastos com os serviços da dívida, o aumento do comprometimento vai de 953 bilhões de reais para 1,014 trilhão de reais, o que significa um aumento estimado em 61 bilhões de reais.
Lei descumprida
Sobre o anúncio da não concessão de reajuste aos servidores no próximo ano, Rondinel considera lamentável, pois, mais uma vez, está sendo descumprido um preceito constitucional. A redação da Emenda Constitucional nº 19, de 1998, destaca de forma clara no artigo 37, inciso X, que “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices.”
O descumprimento da lei tem sido regra comum dos últimos governos, desde o período de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Para não haver responsabilização pela falta de correção salarial, a prática, que vem desde os governos tucanos, é de criar gratificações e a partir delas aumentar os vencimentos dos servidores. Contudo, a regra constitucional é explícita: a revisão geral deve ser anual, na mesma data e com índices iguais.
Foto: Arquivo da SEDUFSM
Edição: ANDES-SN