Após dois meses em greve, completados nesta terça-feira (28), os docentes das Instituições Federais de Ensino (IFE) continuam mobilizados e pretendem intensificar ainda mais a luta no mês de agosto, para avançar nas negociações com o governo e alcançar conquistas reais para a categoria. Na pauta de reivindicações dos docentes está a defesa do caráter público da universidade, melhores condições de trabalho e ensino, garantia da autonomia universitária, reestruturação da carreira docente e valorização salarial de ativos e aposentados. Em greve desde o dia 28 de maio, o movimento contou no primeiro dia da greve com a adesão 18 seções sindicais. Atualmente, o movimento paredista já conta com a adesão de 41 seções sindicais, segundo o último quadro divulgado pelo Comando Nacional de Greve (CNG) das IFE, no dia 24. Veja lista aqui.
Segundo Joselene Ferreira Mota, do CNG, o movimento grevista tende a crescer em agosto, por se tratar de ser um mês de retomada do recesso do período letivo, quando a precarização das instituições, acentuada pelos os cortes orçamentários, tende a se agudizar. “A greve tem se fortalecido a cada dia, com o número de seções sindicais do ANDES-SN que duplicou nestes dois meses. Mesmo levando em conta que o início da greve não foi fácil, por conta do período letivo – final de semestre – e muitos professores ficaram receosos em aderir à paralisação, dentre tantas outras dificuldades, estamos vendo como os cortes estão sendo materializados em algumas universidades”. Recentemente, houve novo corte feito pelo governo federal, no valor de R$ 8,6 bilhões. O último corte nas áreas sociais havia sido de R$ 69,9 bilhões. Agora, o total chegará a R$ 79,4 bilhões.
Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, explica que diante dos cortes anunciados pelo governo federal, que integram as medidas de ajuste fiscal, e retiram recursos diretamente das instituições, a greve dos docentes e técnicos passou a ter uma grande importância na luta, na tentativa de revertê-los. “Se a situação continuar do jeito como está, as instituições não terão a menor condição de funcionamento no segundo semestre”, disse.
Unidade
O presidente do Sindicato Nacional destacou como fundamental a unidade dos Servidores Públicos Federais (SPF) na mobilização através das greves. Ele enfatiza a importância das entidades que deflagraram greve no mês de julho, como o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps) e a adesão da base da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) para o fortalecimento do movimento paredista.
“A greve dos professores e também dos demais servidores federais tem crescido diante da posição intransigente do governo, que insiste em apresentar um reajuste salarial inaceitável, que não repõe a inflação, e não traz nenhuma proposta para os demais itens da pauta unificada dos SPF. A intensificação da mobilização e o fortalecimento do Fórum das Entidades Nacionais dos SPF foram importantes para consolidar a unidade dos SPF, que rejeitaram de forma unânime essa proposta do governo [reajuste de 21,3%, parcelado em quatro anos]”, contou Rizzo citando as negociações com a Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SRT/Mpog).
Marcha
Os docentes tiveram uma ampla participação na Marcha dos Servidores Públicos Federais (SPF) que ocorreu em Brasília (DF), no último dia 22, e que contou com mais de seis mil pessoas. Respondendo à convocação do Comando Nacional de Greve (CNG), os docentes das IFE vieram de diversos estados para pressionar o governo federal a interferir nas negociações entre os SPF e a SRT/Mpog e que este respondesse a pauta de reivindicações efetivamente. A pressão do movimento, fez com que uma comissão representativa do Fórum das Entidades Nacionais dos SPF fosse recebida pela Secretaria Geral da Presidência da República em uma audiência, com objetivo de dar continuidade ao processo de negociação salarial dos eixos da campanha unificada para 2015 dos servidores públicos. De tarde, em reunião setorial com entidades representantes dos docentes da Educação Federal, a Secretaria de Relações do Trabalho do Mpog reafirmou a proposta já apresentada ao Fórum das Entidades Nacionais dos SPF de reajuste de 21,3%, parcelado em quatro anos. A proposta que já foi rechaçada pelo Fórum, também foi recusada pelo ANDES-SN e Sinasefe.
Para a representante do CNG, Joselene, a greve unificada junto com os SPF tem dado um “certo fôlego” para o movimento na articulação das marchas e caravanas, nas atividades com o Fórum dos SPF, o que resultou em uma maior visibilidade à greve.
Caravana
No dia 7 de julho, a união das categorias dos três segmentos da Educação Federal, junto com os estudantes, fortaleceu a mobilização. Mais de três mil pessoas protagonizaram um grande ato em defesa da Educação Pública na capital federal. Docentes, técnicos e estudantes se reuniram em frente ao Museu da República e marcharam até o Ministério da Educação, para exigir uma audiência com o ministro, Renato Janine, e cobrar a reversão dos cortes no orçamento da Educação Federal e mais investimentos na área. Após a recusa do ministro em receber os manifestantes, foi protocolado o Manifesto em Defesa da Educação Pública, fruto dos debates realizados na Reunião da Educação Federal, no dia anterior, com a participação de mais de 600 pessoas. Confira aqui o documento.
Desafios
Paulo Rizzo, presidente do Sindicato Nacional, acredita que o “grande desafio que temos agora no final de julho e começo de agosto é o de fortalecer a greve e a unidade dos SPF, para forçar o governo a avançar na negociação com o Fórum e responder a pauta específica do ANDES-SN. Precisamos, também, ampliar a mobilização exigindo o fim dos cortes. A nossa greve não vai se resolver somente pela questão salarial, ela tem o objetivo da defesa do caráter público das instituições e a reversão dos cortes”, conclui.
Fonte: ANDES-SN