Às vésperas da Copa do Mundo, trabalhadores mostram ainda mais disposição para continuar denunciando o descaso do governo com a população e seus direitos, mesmo com o aumento da repressão e violência que tentam impedir os protestos
Apesar de toda a repressão utilizada pelo Estado, com a polícia fortemente armada para impedir o direito à manifestação, os trabalhadores têm mostrado disposição para manter a mobilização, e fortalecer o movimento que denuncia o caos instalado em setores como educação, saúde, transporte, bem como na iniciativa privada, e a postura dos governos (federal, estaduais e municipais) em ignorar as reivindicações e minimizar, em seus discursos, as inúmeras greves que explodem em praticamente todos os estados brasileiros.
O atual cenário mostra que a disposição de luta tende a crescer, caso não haja uma negociação efetiva, e que a greve em vários setores e categorias é uma realidade: são servidores públicos municipais, estaduais e federais da educação, saúde e cultura, estudantes, rodoviários, motoristas, cobradores, metroviários, metalúrgicos, vigilantes, operários de refinarias da Petrobrás, trabalhadores da construção civil, de cartórios, policiais e estivadores que têm protagonizado as greves intensificadas desde o início do ano.
“As negativas do governo têm mostrado aos trabalhadores que é preciso permanecer na luta, ampliar a mobilização e endurecer o movimento. Os trabalhadores insistem na abertura do diálogo, por meio de vários documentos protolocados em órgãos como os Ministérios do Planejamento e da Educação, por exemplo, para tentar solucionar os problemas enfrentados pelas categorias, como o aumento da precarização, péssimas condições de trabalho e valorização do trabalhador”, afirma a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, que acrescenta: “no entanto, o recado do governo é demonstrado pelas bombas, balas de borracha, truculência, sprays de pimenta, prisões e todos os outros instrumentos que tem sido utilizado pela polícia nos atos realizados pelo país”.
Em algumas capitais brasileiras, as greves têm sido mais intensas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, Belo Horizonte e Teresina. Mas o movimento se amplia por todo o país. Junto com as greves, crescem também as manifestações contrárias ao megaevento de junho, com atos marcados em todas as cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo, organizados pela Articulação dos Comitês Populares da Copa (Ancop) em conjunto com movimentos sociais e sindicais.
“É preciso denunciar todas estas ações que favorecem ao capital, e negam à população e aos trabalhadores os seus direitos, como o acesso a serviços públicos de qualidade, como educação, saúde e transporte. Temos que permanecer mobilizados. Está cada vez mais claro que a Copa do Mundo não veio para trazer qualquer benefício aos brasileiros, e que cerceia os nossos direitos. O ‘legado’ prometido pelo governo é praticamente inexistente, atende a uma parcela mínima da população e está aquém das reais necessidades e prioridades do povo”, ressalta a diretora do ANDES-SN.
Educação
Em reunião no último final de semana (24 e 25 de maio), os docentes das Instituições Federais de Ensino (IFE) aprovaram indicativo a deflagração de greve por tempo indeterminado para o mês de junho. Para o dia 7 de junho, sábado, está marcada a próxima reunião do Setor das Ifes do ANDES-SN, que deliberará sobre a “data para deflagração da greve” com base nas manifestações das assembleias gerais dos docentes, que serão realizadas nos estados entre 2 e 6 de junho. “As informações trazidas pelas Seções Sindicais demonstram um evidente aumento da indignação frente ao descaso do governo com as pautas dos trabalhadores da educação federal, e apontam como reação a intensificação da mobilização”, conta Marinalva.
A Fasubra e o Sinasefe também seguem mobilizados, com a realização de várias atividades em Brasília e nos estados. Em greve desde o dia 17 de março e 21 de abril, respectivamente, as entidades têm enfrentado grande resistência por parte do governo para a abertura de negociações efetivas e prometem radicalizar o movimento.
Violência e repressão
Na última quarta-feira (28), professores estaduais e municipais do Rio de Janeiro vivenciaram mais uma vez a violência adotada pela polícia para coibir as manifestações. Em greve desde o dia 12, os docentes aguardavam o término de uma reunião com representantes do Executivo quando decidiram seguir em passeata pela Avenida Presidente Vargas até a Secretaria Estadual de Saúde. Em minutos, diversas viaturas chegaram e tentaram desobstruir a avenida, empurrando os professores. Além de escudos, foram utilizados sray de pimenta, bombas de gás lacrimogênio para dispersar a manifestação.
Em Brasília, a polícia reprimiu violentamente a manifestação realizada na última terça-feira (27) contra as injustiças promovidas em nome da Copa do Mundo, a violência policial, pela demarcação das terras indígenas e pelo direito à moradia. O protesto foi organizado pelo Comitê Popular da Copa do Distrito Federal, MTST, representantes de movimentos sociais e sindicais, e contou com a participação de indígenas de mais de 100 etnias.
A atividade reuniu cerca de 4 mil pessoas e foi duramente reprimida pela polícia militar, que fez uso da cavalaria, bombas, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha para impedir o livre direito de manifestação de ideias. Ao menos nove pessoas ficaram feridas, entre elas seis indígenas e um repórter fotográfico, diversas crianças tiveram os olhos queimados pelos gases, e três manifestantes foram presos, em mais uma cena de barbárie e repressão protagonizada pelo braço armado do Estado.
* Com informações da CSP-Conlutas e Agência Brasil
Fonte: ANDES-SN