Jaldes Reis de Meneses
Sempre converso por poucos minutos, até constantemente, em encontros fortuitos, quase semanais, na sede de nossa querida ADUFPB, no cafezinho, com Hildeberto, meio como aquelas conversas de até mais eu vou indo de Paulinho da Viola. Mesmo na pressa do dia-a-dia, nossas trocas sempre são generosas. Gostaria de conversar mais, pois acho Hilbeberto – vou usar uma expressão arriscada – um sujeito feito de linguagem, que travou com ela uma luta corporal anos a fio, a cada momento se descosendo, emergindo através do poema uma rica experiência de vida, vida esta que culmina com o lançamento de suas poesias – até o momento – completas, que acho um grande acontecimento cultural na Paraíba.
Conheço muitos poemas e livros de Hilbeberto, admiro o conjunto da obra, me vejo na obrigação de comentá-la de maneira mais sistemática algum dia, mas gostaria de aproveitar (oportunista que sou) a ocasião para tratar de um assunto caro a ambos, a poesia. Sou até mais suspeito no assunto que Hildeberto, pois de alguma maneira sou conhecido como político (ou comentarista de política, pior ainda). Tenho preocupação com o destino da poesia no mundo, mas ao mesmo tempo vejo a poesia renascer inesperadamente, embora muitas vezes como simples “aparições”, seja no sinal de trânsito ou no improviso de uma nota musical. O feito de Hildeberto é precisamente este, em contrapelo, o que o fez, ele e sua obra, trata-se de uma figura absolutamente original nas relações sociais do “conterporâneo”: nele, a poesia não “aparece” para em seguida “desaparecer” instantaneamente, ma s, ao inverso, tornada permanente, é produto de uma meditação no mundo.
Começa-se a se perder a tradição da poesia do romantismo e até da fase áurea do modernismo brasileiro, de Drummond, Bandeira, João Cabral, Jorge de Lima, Vinicius e Paulo Mendes Campos. O grande mérito de Hildeberto é reiterar e persistir na tradição meditada. Escrevi a pouco uma crônica aqui no wscom chamada “lira dos setenta anos”, a respeito dos setenta anos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paul McCartney. Não fui ingênuo. Tinha em mente duas referências literárias mais ou menos ocultas, Álvares de Azevedo (lira dos vinte anos) e Manuel Bandeira (lira dos cinqüenta anos). Queria demonstrar o fato que as liras foram se prolongando com o tempo – hoje, pode-se comemorar a lira aos setenta anos, da mesma maneira que a lira já se comemorou aos vinte e aos cinqüenta anos. Mostrei o texto e conversei sobre a questão com vários literatos, doutores em literatura da univ ersidade. Ninguém percebeu o nuance da lira. Ninguém percebeu, ninguém, incrível. Que diabos é a literatura que se ensina nos colégios e universidades?, até o nível da pós-graduação?
Há pouco entendimento da poesia no mundo. Para se fazer poesia não precisa se entender de poesia, ainda bem que no fundo ela é um grande mistério. Deixou de haver educação em poesia, nos moldes do idealismo clássico alemão ou do modernismo brasileiro, quando os livros de poesia eram esperados com avidez pelo leitor, e os poetas, desde Goethe até Drummond se tornaram referências cujos novos lançamentos de poesia eram esperados pelo público. Muito disso se perdeu, menos por enquanto na Paraíba, pois aqui temos Hildeberto Barbosa Filho, que está lançando a sua obra poética completa –por enquanto – salve, salve. Belo, o seu anacronismo, Hilbeberto!