* Texto lido pela autora na assembleia dos professores do dia 23/5/2014
Outro dia, na última Assembleia da ADUFPB, ouvindo as falas dos colegas, fiquei imaginando por que eu havia me colocado em tantas outras reuniões da ADUF – inclusive com a própria representante do ANDES – acerca de iniciarmos uma campanha a fim de mostrarmos para o governo e para toda comunidade, acadêmica ou não, que o nosso representante era o ANDES?
Ouvi que o a ADUF morreu, o ANDES morreu! Como falou uma amiga, decretaram a morte do ANDES, e porque não dizer de todas as instituições representativas de nossa sociedade.
Não é no mínimo curioso que os Funcionários e os próprios Discentes, os grandes “prejudicados” em um movimento grevista, estivessem apoiando uma possível greve (possível porque não era essa a tônica, pelo menos não naquele momento, da Assembleia), e os docentes, ao invés disso, estivessem decretando a morte de sua entidade representativa?
Também ouvi um dos docentes perguntar-se e perguntar à Assembleia e à ADUF se a greve ainda seria um instrumento válido de luta, assim como apontava outras formas como diálogo com a Reitoria, além de outros apelos, o que foi ovacionado com palmas e gritos por outros colegas.
A princípio, o companheiro que estava com a palavra e os que o aplaudiam, demonstravam, no mínimo, uma falta de participação na vida política da instituição da qual fazem parte, pois do contrário saberiam que o movimento, incluindo não só a direção, mas juntamente com outros docentes haviam protocolado uma pauta de reivindicações junto à Reitoria. Sendo acompanhados também pelos representantes dos funcionários e dos discentes.
Outros temas abordados na referida Assembleia referem-se ao último documento assinado pelo representante do MEC e a presidente do ANDES que, semelhante aos protocolos assinados entre países, era considerado pelos oradores como algo menor e passível de ser desconsiderado; assim como sinalizavam o pouco peso do movimento docente na mesa de negociação, com destaque para a Copa e as eleições.
Por fim, também ouvi entre os colegas que deveriam ter juntado mais 15 docentes de forma a vencer a votação, pois o indicativo de greve sem data havia sido aprovado.
Nesse momento, várias perguntas me surgem à cabeça:
O que será que aqueles que votaram contrários imaginam sobre o que vem a ser um “indicativo de greve sem data”?
Será que compreendem que o movimento está em um momento decisivo das negociações por uma carreira docente?
Por que tamanha resistência em fortalecer os nossos representantes nas negociações, junto ao MEC, nessa correlação de forças?
Por que continuam filiados à ADUF e ao ANDES se não acreditam na luta e, pior, não participam das Assembleias e discussões propostas pela ADUF e pelo ANDES?
Essa afiliação se reduz a procurar a ADUF quando os interesses particulares, individualizados, são atingidos?
Sim porque a ADUF e o ANDES não são pessoas, não são coisas. Se como disse a companheira, ao decretarmos a morte da entidade representativa da nossa categoria, estamos decretando a nossa própria morte. A morte da luta e da utopia, a utopia da mudança, da transformação. Já dizia um poeta quando se perguntava: pra que serve a utopia? E ele próprio respondia: A utopia nos faz caminhar…
As circunstâncias fazem os homens, mas os homens também fazem as circunstâncias. A história nunca está de antemão escrita!
Hoje a luta não é somente por estrutura (visível por todos e todas) e salários dignos para que possamos trabalhar. É também por uma carreira docente. Há alguns anos atrás vimos a carreira docente desmoronar com a criação, nos moldes do governo, da classe de professor Associado, ocasionando a diferenciação nos reajustes salariais entre aposentados e ativos, podendo estes últimos seguir para patamares com maiores salários. No ano passado tivemos a aprovação de um arremedo de plano de carreira: sem piso, sem steps, e os aposentados terem seus salários rebaixados. Nessas medidas a carreira docente ficou a bel prazer e a mercê dos critérios imediatistas e oportunistas dos governantes e legisladores.
Também foi questionado na Assembleia, o que se ganhava com a greve, ao que o mesmo professor respondeu: NADA! Aqui me permitam perguntar aos contrários ao movimento, à luta, a uma possível greve:
Como vocês acham que o salário que recebemos hoje foi conquistado? Pela luta, como um TRABALHADOR! (ainda que, sendo um dos pesos nesse enfrentamento) ou por dádiva de algum salvador da pátria?
Por que, apesar de vendermos a nossa mão de obra de forma barata, o cargo de professor das IFES ainda é almejado por tantos profissionais?
Por fim, gostaria de voltar a minha reflexão anterior. Será que ainda é necessário, caro presidente da ADUF e colegas, apontarmos que o nosso representante é o ANDES? Segundo algumas falas de nossos colegas: não precisamos que outra entidade ou que o próprio governo nos derrube enquanto categoria, enquanto classe, pois nós já nos jogamos no chão!
Penso, hoje mais do que nunca, que sim:
O NOSSO REPRESENTANTE É O ANDES!
João Pessoa, 23/05/14
Profª Maria das Graças de Almeida Baptista
DFE/CE/UFPB