Sob a visão de um projeto nacional de incentivar a cultura do país com destaque a personalidades que marcaram sua história em defesa de causas que ajudaram a modificar sistemas de relações sociais e políticas arcaicas como as estruturas agrárias e coronelistas do país, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) criou o “Memorial Agassiz Almeida”, baseado no seu acervo literário, documental, político e fotográfico. Agassiz Almeida foi aluno, professor da UFPB e fundador da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande. Apoiado neste importante acervo histórico, cujo alcance abrange o período entre 1950 e 2014, a reitoria da universidade inaugurou, no dia 29 de novembro de 2016, o “Memorial Agassiz Almeida”, em um evento este que contou com a presença de representantes dos mais diferentes segmentos sociais, sobretudo de personalidades do mundo político e intelectual.
Na ocasião, a professora Maria Luíza declarou em discurso que “o acervo literário, documental e fotográfico que a UFPB recebeu como doação de Agassiz Almeida, amplamente catalogado, servirá, decerto para estudos e pesquisas durante um conturbado período da nossa história, sobretudo da época da ditadura militar”.
Damião Cavalcante, representando o governador Ricardo Coutinho, destacou: “A história de Agassiz Almeida é muito rica, tanto por sua atuação política, como por sua obra literária, destacadamente ‘A república das elites’ e a ‘Ditadura dos generais’. Elas apontam, sem dúvida, uma visão de profunda análise da recente história do país. Parabéns à UFPB pela inauguração do ‘Memorial Agassiz Almeida”.
Biografia
Em discurso na Câmara Federal, o deputado Rômulo Gouveia traçou um perfil biográfico do homenageado. Confira trechos do discurso abaixo:
Agassiz Almeida doou a Universidade Federal da Paraíba sua obra literária, documental e fotográfica que registra toda a sua trajetória de lutas em defesa da democracia e das igualdades sociais. Idealista, militante político que conheceu os porões da Ditadura Militar na condição de preso político, Agassiz Almeida sempre se manteve firme e coerente em seus posicionamentos em defesa da reforma agrária, dos camponeses e dos direitos humanos.
O “Memorial Agassiz Almeida” abriga o acervo literário, documental e político de um dos seus alunos mais brilhantes e professor desta instituição.
A inauguração do “Memorial Agassiz Almeida” abre um espaço para estudos e pesquisas de um conturbado período da nossa história, sobretudo no Nordeste, durante o qual Agassiz Almeida teve relevante participação, nestas frentes de lutas a começar no final da década de 1950: formação e participação em associações rurais (ligas camponesas), no objetivo de organizar a luta dos camponeses contra um sistema de exploração semifeudal instrumentalizado no cambão, no barracão e assassinatos ocorridos nas regiões férteis do Nordeste, ao lado de Francisco Julião, Assis Lemos, Gregório Bezerra e João Pedro Teixeira, e assim eles despertaram a nação e até o mundo (Senador Robert Kennedy esteve em Sapé em 1961), para o espoliativo sistema agrário nordestino.
Em outra frente de luta, Agassiz Almeida desafiou o coronelismo na região do Cariri Paraibano, não com as armas dele, mas com a criação de cooperativas, associações rurais, nas margens dos rios Taperoá e Paraíba, na defesa dos produtores de verdura (estes fatos ocorreram no final da década de 1950). Agassiz Almeida foi fundador da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande, e inspirador da criação da Faculdade de Direito e do teatro Severino Cabral em Campina Grande (1961, projetos de lei na Assembleia Legislativa da Paraíba).
Com o golpe militar de 1964, teve cassado o seu mandato de deputado estadual e foi demitido das funções de Promotor de Justiça e professor da UFPB.
Em 1966, a OAB da Paraíba negou a sua inscrição para o exercício da advocacia. Neste ano, deixa a Paraíba e vai residir em Vitória da Conquista/BA, e posteriormente em Londrina/PR.
Em 1968, a convite de Ulysses Guimarães participa da fundação do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Em 1979, com a lei de anistia, volta a Paraíba e retorna às suas funções.
Foi Suplente de Deputado Federal na legislatura de 1979/1983, onde chegou a assumir e exerceu o mandato de 1980 a 1981.
Em 1986 é eleito Deputado Federal, sendo um dos mais ativos integrantes da Assembleia Nacional Constituinte de 1988. (Constituinte nota 10).
Em 1990, deixa a política e se dedica a construção de uma obra literária situando-se como um dos grandes escritores brasileiros, sobretudo após o lançamento do seu livro “O fenômeno humano”. A partir daí, dedica-se aos ensaios, nos quais abarca os mais variados assuntos; desde a análise crítica da Carta de Pero Vaz de Caminha, com o livro “500 anos do povo brasileiro” (2001), passando pela “A ditadura dos generais” (2007), em que trata da origem e desfecho do militarismo na América Latina. Um clássico da literatura brasileira, até ao mais recente, “O fenômeno humano” (2012).
A obra literária de Agassiz Almeida é aclamada por nomes como: José Saramago, Ernesto Sábato, José Comblin e Cristóvam Buarque, hoje o situa na galeria dos grandes ensaístas do país, sobretudo com a publicação das obras “A república das elites” e “A ditadura dos generais”, ambas consideradas clássicas da literatura nacional.
Aliado a esta consagrada obra intelectual, Agassiz Almeida marcou também a sua trajetória política pela coerente visão ideológica que manteve durante toda a sua história, desde quando se elegeu vereador por Campina Grande, em 1954. Baseado nesta monumental história ideológica e literária é que a Universidade Federal da Paraíba – UFPB, através dessa iniciativa, reservou um espaço para estudos e pesquisas numa sala hoje com o nome de Memorial Agassiz Almeida.
Esse é o reconhecimento pela bela trajetória literária e política do pensador e homem público Agassiz Almeida, nome que só enobrece e dignifica a história de nossa querida Paraíba.
Assista ao vídeo da inauguração do memorial:
Fontes: Assessoria da UFPB e de Rômulo Gouveia