A ADUFPB divulga nesta terça-feira (17) mais uma edição do jornal “Em Tempo”, publicação quinzenal que tem como objetivo contribuir para o debate e as ações de resistência e mobilização no país e na UFPB. Desta vez, o artigo aborda a questão da falta de políticas hídricas no governo Bolsonaro.
De autoria do professor do Departamento de Geociências da UFPB, Pedro Vianna, o texto explica que o Sertão nordestino foi historicamente “deixado de lado” e somente no século XXI passou a receber alguma atenção. “Desta forma, foi criada – e, pela primeira vez, aplicada – uma série de políticas que abordaram de frente, e com sucesso, a questão do abastecimento de água no semiárido brasileiro”, afirma o professor Pedro Vianna.
No governo Bolsonaro, entretanto, os avanços ficaram no passado. “As políticas sociais afirmativas estão sendo extintas ou deformadas para atender aos mesmos atores sociais, mas agora apresentadas com nova roupagem ideológica, com nomes novos”.
Para ler o texto completo, basta acessar o site da ADUFPB (www.adufpb.org.br) ou solicitar o jornal em formato PDF pelo Whatsapp da assessoria de comunicação (99645-7000). A edição também é enviada por e-mail para todos(as) os(as) docentes cadastrados(as) na nossa lista de distribuição.
Leia abaixo o texto na íntegra ou clique aqui para fazer o download em formato PDF.
A falta de uma política hídrica para o semiárido nordestino
Pedro Vianna
Professor do Departamento de Geociências da UFPB
Ninguém duvida que a nação brasileira passa por um período insólito na história recente do país. Nossa jovem democracia vive uma prova dura, na qual sobreviver passa a ser o objetivo maior. Como então refletir sobre políticas públicas de interesse do povo, como as das águas, se o próprio Estado Nacional está em questão? Este é o nosso desafio, abordar a questão da política pública de abastecimento de água para uma região carente de recursos hídricos, como é o semiárido nordestino.
O Sertão do Nordeste foi deixado de lado, historicamente, e somente no século XXI passou a receber, de forma direta e objetiva, a atenção que merece – notadamente na questão social e também no caso dos recursos hídricos. Desta forma, foi criada – e, pela primeira vez, aplicada – uma série de políticas que abordaram de frente, e com sucesso, a questão do abastecimento de água no semiárido brasileiro.
Talvez o fato de ser o Brasil o país que tem mais disponibilidade hídrica por habitante no planeta possa explicar o descaso com o nosso semiárido. Obviamente também outros fatores sociais e econômicos pesaram nesse descaso, como, por exemplo, o uso da população migrante nordestina como mão de obra na industrialização do Sudeste, nas décadas entre 1950 e 1990. Não havia nenhum interesse em resolver os problemas do sertanejo, mas havia o interesse em movê-los na direção do chamado “sul-maravilha” – e, neste caso, a questão hídrica era uma das mais importantes, pois foi um dos fatores que mais contribuiu para a saída de populações do Nordeste para o Sudeste.
Por outro lado, não é só nesse aspecto que o atual governo federal carece de uma diretriz política. Um breve olhar sobre os discursos e as poucas ações do governo de Jair Bolsonaro prova que não existe proposta de política pública em nenhum setor da sua administração. Estão aí a Saúde, a Educação e o Meio Ambiente para provar a ineficácia e a inexistência de diretrizes. Nem na área militar parece haver uma direção a seguir, visto que aumento de soldos, vantagens e benefícios a pessoal da ativa, da reserva e seus dependentes, não se pode considerar como política de governo.
O Governo Federal sob a gestão de Jair Bolsonaro não faz nada além de continuar, ou continuar com menos ênfase, ou cortar o que estava sendo feito nos governos anteriores. Assim, as políticas sociais afirmativas estão sendo extintas ou deformadas para atender aos mesmos atores sociais, mas agora apresentadas com nova roupagem ideológica, com nomes novos.
No caso das políticas públicas hídricas, nada de novo nesses já quase três anos de desgoverno do Sr. Jair Bolsonaro, apenas a manutenção de algumas obras na continuação da transposição do São Francisco, – cuja paralização total teria gerado revolta de grandes proporções, inclusive das empreiteiras –, e a diminuição escalonada das outras ações, como os programas de construção de cisternas e demais Tecnologias Sociais Hídricas, e mesmo da Operação Pipa, executada pelo Exército Nacional. Nada, absolutamente nada de novo, mas muitos cortes orçamentários nos programas que foram herdados dos governos anteriores. O gráfico a seguir é um triste exemplo do que se expõe aqui.
Vale ressaltar que tivemos a pior seca dos últimos 100 anos, e nenhum saque ou convulsão social. Isso se deveu às políticas sociais, mas também à grande gama de Tecnologias Sociais Hídricas, como as mais de um milhão de cisternas de placas espalhadas por todo o sertão nordestino.
Por fim, nada de novo no front das águas no semiárido nordestino. Tudo o que ainda resta foi pensado, criado e majoritariamente executado nos governos de Lula e Dilma. Os senhores Michel Temer e Jair Bolsonaro apenas diminuíram – ou destruíram – o que vinha sendo feito. As próximas e previsíveis secas com certeza cobrarão a conta.