Para quem leu despercebidamente o editorial d’O Globo lançado hoje (24 de julho de 2016), intitulado “Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito”, pareceu até que o jornal defendeu a inclusão das camadas sociais mais pobres da sociedade brasileira no ensino superior e, assim, uma maior democratização da educação. Balela. Esse editorial é um recado para o presidente golpista Michel Temer: privatização é a solução.
Voltemos um pouco. Há cerca de 20 dias, Kroton e Anhanguera, os dois maiores conglomerados da educação privada no país, se fundiram, criando uma empresa com valor de mercado de 24 bilhões de reais, estando entre as 20 maiores do país na BOVESPA, sendo responsável por quase 1 milhão de estudantes.
Nas palavras do editorial, faz-se necessário debater o ensino superior privado pago, porque hoje o sistema “favorece apenas os ricos, de melhor educação profissional, donos das primeiras colocações nos vestibulares” e aponta a indagação “por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para tal.” Agora é importante algumas perguntas: Por que a solução para a democratização do ensino superior seria a “privatização” das universidades públicas? E desde quando a Rede Globo se preocupa com as camadas mais pobres da população?
Realmente, o ensino superior precisa ser democratizado. Aliás, todo o sistema educacional brasileiro precisa ser reformulado. Apesar de que a educação no Brasil tenha melhorado nos últimos anos, ainda há muito chão para ser percorrido. Os ensinos fundamental e médio carecem de uma restruturação gigantesca, que vai desde da implementação de estruturas físicas de qualidade nas escolas, até mesmo um plano de carreira decente para os docentes das instituições. Há avanços que nos permitem ver as pretas e os pretos nos corredores das Universidades, filho de pedreiro sendo doutor, etc. Entretanto, ainda hoje as universidades do país são elitizadas e não há vagas suficientes para toda a população brasileira. Resultado: das 8,4 milhões de pessoas que se inscreveram no último ENEM, apenas 1 milhão e meio adentraram nas universidades por meio do SISU, do FIES e do PROUNI.
De fato, o sistema é injusto. Mas será que a Rede Globo, dona do maior conglomerado de comunicação do país (e um dos maiores do mundo), que apoiou a ditadura militar em 1964 e apoiadora do golpe atual que instaurou um governo que não tem nenhum compromisso com a educação brasileira, está preocupada com isso?
Não. Não está. A Rede Globo tem um projeto muito nítido, que é acabar com as empresas públicas no país, privatizar a PETROBRAS, desmontar a educação pública, retirar todos os direitos conquistados nos últimos anos e tornar a sociedade brasileira refém das empresas que não têm nenhum compromisso com o progresso e com a soberania do nosso país.
No Editorial d’O Globo mencionam como solução para o ensino superior a privatização, já que a alta carga tributária brasileira seria “uma via esgotada”. Entretanto, não lembram que essa carga tributária atinge uns e não outros, reproduzindo a desigualdade no país ao taxar mais os que ganham menos e menos os que ganham mais. Segundo a Carta Capital: “metade da renda das famílias que ganham até dois salários mínimos (cerca de mil reais) segue para o governo federal, estados e municípios. A “mordida” cai a 26% para as famílias com rendimento mensal acima de 15 mil reais”. Se está faltando dinheiro por conta da crise, por que não fazer uma auditoria da dívida pública ou mesmo taxar as grandes fortunas, a começar pela família Marinho?
Precisamos, portanto, avançar na democratização do acesso às universidades públicas e nas condições de permanência para que os estudantes possam ter uma formação de qualidade. Entretanto, a saída NÃO É A PRIVATIZAÇÃO! A educação pública é um direito do povo brasileiro. A proposta do Editorial d’O Globo é de entrega das nossas universidades públicas aos tubarões da educação privada, como Kroton e Anhanguera. A educação não deve ser tratada como mercadoria. Ela deve estar comprometida com o desenvolvimento e a construção de um projeto soberano de país. É por isso que continuaremos denunciando essa mídia golpista e entreguista e na luta por um projeto popular para a educação!
Fonte: Túlio Cabral e Mariana Davi, militantes do Levante Popular da Juventude na Paraíba