José Flávio Silva (*)
A memória viva de mil novecentos e trinta encerra-se com a ida de Nivalson Miranda cujo falecimento ocorreu na manhã do sábado, 17/08, no Hospital Memorial São Francisco. Não disponho de detalhes sobre os dias passados naquele nosocômio.
Nascido em 1927, na capital do Estado da Parahyba, então Parahyba do Norte, estava com três anos quando o presidente João Pessoa foi assassinado pelo advogado João Dantas na confeitaria “A Gloria”, no dia 26 de julho de 1930.
O Partido Republicano Paulista (PRP) elegera naquele ano o paulista Júlio Prestes para presidente da República do Brasil. O partido tinha adeptos na Parahyba, cognominados de “perrepistas”. Esses partidários faziam oposição ao presidente João Pessoa.
Com a morte do presidente João Pessoa, os perrepistas foram perseguidos. Em entrevista ao jornalista do jornal O Norte, Henrique França, em 5/8/2006, Nivalson Miranda diz o seguinte: “… de um dos primeiros dias de agosto de 1930 quando um caminhão do Exército da Parahyba estaciona em frente à casa do comerciante Antônio Bandeira de Miranda. Apressados, os soldados fazem subir ao veículo os três filhos, a esposa e a sogra do comerciante, que seriam apanhados logo mais, no 22° BC, onde estava preso. Junto a outras famílias, o grupo viajou durante a madrugada até chegar a Recife, onde foi deixado ao relento. Entre os expatriados estava o menino Nivalson Miranda, de apenas três anos. `As crianças iam soltas dentro do caminhão, as mães tentando segurar, chorando. Minha família foi deixada em uma das calçadas da avenida João de Barro, na Encruzilhada.
Ficamos todos ali, escorados em uma parede, debaixo de uma chuva grosa. Aquilo eu não esqueço nunca`, relembra o historiador e heraldista.”
“O tiro recebido por João Pessoa disparou a caça aos chamados perrepistas.`Os presos foram libertados das cadeias com uma condição: que iam ser apontadas as casas dos perrés e eles tinham direito ao saque, ao estupro e à queima de tudo o que tivesse nessa casa. Não sofremos maior violência porque minha mãe era da família Fernandes.”
Retornando à Parahyba, quando cessou a onda de perseguição, Nivalson Miranda dedicou-se ao estudo galgando o diploma de químico industrial. Ao mesmo tempo tinha como hobby o desenho de bico de pena com foco na História da Parahyba e, de além mar, trouxe a inquietação da Heráldica.
Henrique França, no mesmo jornal, na edição do dia 15/10/2009, esclarece: “entre as exposições realizadas destacam-se a Mostra de Heráldica Gentílica Brasileira e Heráldica Cívica; Heráldica Eclesiástica dos bispos e arcebispos Paraíbanos, Sertão Histórico e Hans Staden.
É o criador do brasão do Brasão de Armas do 15° Batalhão de Infantaria de João Pessoa e das Armas de vários municípios. É autor do livro “Areia e seu entorno”…”
Nivalson Miranda foi o colega que contagiava por suas histórias e estórias no ambiente frequentado por professores da UFPB, ADUFPB. Nunca o presenciamos triste. Enérgico, transmitia luz e esperança a todos nós com maestria e sabedoria. Inquieto, sempre estava com uma pasta a tiracolo recheados de projetos para desenvolvê-los no instrumento companheiro de luta, o bico de pena. Aí sim, expandia-se em criatividade metafísica.
Do amigo José Flávio
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(*) José Flávio Silva, professor da UFPB, aposentado.