Rolando Lazarte
“Na Terapia Comunitária Integrativa, a cura passa pelo resgate das raízes e dos valores culturais que despertam no homem o valor e o sentido da pertença.” Esta é uma frase de Adalberto Barreto no seu livro Terapia Comunitária passo a passo. Ela ressalta o valor e o sentido da pertença. O pertencimento faz sentido, é um valor fundamental. O ser humano é parte. Cada um de nós é uma parte que só se totaliza (só se integra em si mesma) ao se descobrir parte de um todo que a inclui.
No seu artigo As dores da alma dos excluídos no Brasil, Adalberto Barreto nos diz, de maneira muito clara e contundente, como é que a maioria de nós, migrantes (e em algum sentido, todo ser humano é migrante), nos ausentamos de nós mesmos, deixamos vazio o ser que somos.
Na migração para a cidade, vindo do interior, o migrante se vê obrigado a cortar com as suas raízes. Perde a sua fala própria, seus costumes, seu contato com a terra, mas, sobre tudo, perde a sua pertença a uma rede social, a uma teia de contatos com os quais mantinha uma relação direta. Eunice Durham, no seu livro A caminho da cidade, também retrata este processo.
Nesse processo de chegada a uma grande cidade, a pessoa vai se perdendo de si mesma, vai perdendo a noção do seu valor, vai se depreciando. Neste contexto, a inserção em novas redes sociais que possam lhe devolver um sentido de pertencimento, é vital. A Terapia Comunitária Integrativa é uma dessas redes que acolhem as pessoas que estavam desgarradas, e possibilitam que vão se reencontrando com as suas raízes, que vão recuperando o sentido do seu valor.
E, sobre tudo, o sentido e o valor de pertencer, de ser parte, de fazer parte. A sociedade capitalista gera alienação; na verdade, vive da alienação, do estranhamento, da dissociação da pessoa dela mesma, da transformação das pessoas em seres ocos, vazios, sem sentido, mão de obra para o capital, massa de manobra para os políticos e as religiões domesticadoras.
Na Terapia Comunitária Integrativa se criam espaços de ressignificação da vida das pessoas e comunidades. Não é que a TCI venha lhe dar um sentido à sua vida, é que na TCI, você vai se lembrando de quem você é, de onde veio, quem foram seus pais, quão são os seus valores, as coisas que para você valem a pena. Você ganha um impulso muito forte para integrar a sua vida: seu passado, seu presente e seu futuro. Você descobre outra vez um espaço dentro de você mesmo.