Rolando Lazarte*
Quem é você? Esta pergunta dificilmente possa ser respondida, ao menos não de maneira direta, total e definitiva. Eu posso ter uma noção do que vou sendo, se prestar atenção não só a esta pergunta, mas ao contexto da minha história de vida, do meu grupo familiar, meus amigos e amigas, os lugares onde morei, as coisas que fiz e deixei de fazer.
Você é quem você é, ou quem os outros esperam que você seja? Esta pergunta tampouco pode ser respondida de maneira completa ou excludente. Eu sou tanto quem eu sou, como alguém que é em parte também o que os outros esperam que ele seja. A questão está no balanço, na equilibração.
Se eu estou em busca, e a condição humana é esta, é a de estarmos constantemente atrás de algo que nos escapa, que esta um pouco mais além, deverei ter descoberto ou em algum momento descobrirei o quanto dos outros há em mim, o quanto das expectativas dos meus pais e das pessoas mais importantes da minha vida sobrevive em mim. Isto pode ser um condicionante, uma razão muito forte para que eu seja como sou.
Ninguém é isolado. Nascemos em contextos específicos, determinados. E nessa situação determinada, vamos nos construindo, vamos elaborando a pessoa que somos. Em parte conscientemente, mas muito mais, sem ter muita noção do que está dentro de nós, do que nos somos. O que tenho encontrado no contexto da Terapia Comunitária Integrativa e nos cursos de Cuidando do Cuidador são valiosíssimos indícios de por que sou como sou.
Se tenho uma excessiva auto-exigência, pode ser, como muitas vezes se observa nestas vivências de auto-conhecimento coletivo, porque tive que tentar ser aceito tratando de agradar aos meus pais desde a nascença. Isto pode ter criado em mim um mecanismo de estar constantemente demandando de mim o impossível, uma satisfação das pessoas em volta, além da minha capacidade de atendê-las.
Mas ao mesmo tempo, esta auto-exigência, pode ser re-direcionada em um sentido construtivo na direção da minha própria pessoa, numa perspectiva do amor a mim mesmo, como também pode ser re-orientada na direção de um serviço aos demais, em uma ação na qual vou sarando das minhas próprias feridas na tentativa de aliviar a dor alheia. Só reconheço o que conheço.
*Rolando Lazarte, sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da UFPB e do Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba http://rolandolazarte.blogspot.com e http://rolandolazarterapeutacomunitario.blogspot.com