O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) denunciou, nesta segunda-feira (4), o assassinato do militante gay Severino Bernardo da Silva, conhecido como Suzy, residente do pré-Assentamento Vanderlei Caixe, localizado no município de Pedras de Fogo, na Paraíba.
Suzy, que morava sozinho, foi encontrado às 5h da manhã, ao lado da sua casa, pelos vizinhos. O corpo continha sinais de violência, golpes de facão, faca e perfurações de um escavador.
A Polícia de Pedras de Fogo foi ao local para dar início às investigações. A linha de investigação assumida pelo delegado do caso é de crime homfóbico, dados os traços de ódio e crueldade. Segundo informações, a suspeita é de que seja alguém de fora do Assentamento, não pertencendo ao movimento.
Assentado já há nove anos, Suzy era uma figura que todo mundo gostava, muito tranquilo, esforçado, cultivava a sua terra, colaborativo e participativo nas atividades do movimento.
Para Alessandro Mariano, do Coletivo Nacional LGBT do MST, trata-se de um crime de ódio: “Nenhum ser humano merece o que aconteceu com a Suzy. Na verdade, isso só reforça a importância de movimentos sociais como o MST fazerem a luta contra a LGBTfobia, que segue violentando muitas LGBTs que vivem no campo, mas também que assassinam, que tiram vidas e sonhos. Na verdade, estamos muito sentidos, e agora espera-se que a Justiça, que a polícia possa fazer investigações e, de fato, punir quem fez isso”, declara ele.
Max Castelo Branco, da Direção Estadual e Coletivo LGBT Sem Terra, conversou sobre esse assassinato com o Brasil de Fato PB.
Brasil de Fato PB: Como é que vocês receberam, a população LGBT do MST, a notícia da morte de Suzy?
Max Castelo Branco: É muito doloroso saber que a gente não garantiu um espaço tranquilo, onde a pessoa pudesse viver a sua identidade, viver para amar e ser feliz, porque nós conseguimos garantir dentro do nosso território, mas para fora não. Como se fosse assim, dentro de casa eu tô seguro, mas quando eu boto o pé na rua, eu tenho que me preparar para tudo o que vem. Então, dentro do nosso território, hoje, nós já podemos garantir segurança, mas para fora é um absurdo, e nós não queremos uma ilha para proteger os LGBT.
BdFPB: Como é ser LGBT, no MST, hoje em dia?
Max: Dentro do MST conseguimos a nossa visibilidade, como cidadãos, como ser político de luta, esse reconhecimento pela nossa identidade, o respeito pela diversidade dentro do movimento. Então, o MST avançou muito nesse processo de debate, estudo, discussão e o reconhecimento do Coletivo, do sujeito de luta LGBT dentro da construção do movimento.
Tanto é que (o movimento) mudou as suas regras, suas diretrizes, incluindo essa população como sujeito de luta. Mas é claro que nós temos uma tarefa importante, que é dar continuidade ao trabalho de base nessa perspectiva da acolhida desses cidadãos dentro dos nossos territórios. Na construção desse território livre de homofobia, não só livre do veneno, não só pensando no princípio da produção da alimentação saudável, mas do respeito à Vida, do respeito à diversidade, desse colorido que é a vida, que é a diversidade.
Então são desafios, mas a gente avançou muito comparado ao que a gente já viveu dentro do movimento, de repressões e punições por dirigentes machistas e misóginos.
Leia a nota do MST:
Contra a LGBTIfobia, nenhum minuto de silêncio! Justiça por Severino, a Suzy, já!
É com indignação que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado Paraíba, denúncia o assassinato de Severino Bernardo da Silva, conhecido como Suzy (Gay Sem Terra) que residia no pré-Assentamento Vanderlei Caixe, localizado no município de Pedras de Fogo, na Paraíba. Seu corpo foi encontrado nesta segunda-feira (04/07), em sua residência, com sinais brutais de violência e ódio por todo o corpo.
Severino, a Suzy, como gostava de ser chamado, era trabalhador Sem Terra, gay assumido no assentamento em que vivia, há 9 anos. Ele gostava muito do trabalho e da vida no campo, o que o levou a lutar pela terra, conquistando o seu maior sonho de ser assentado da Reforma Agrária. Atualmente cultivava em seu pedaço de terra macaxeira, batata-doce, inhame, abacaxi, mamão, maracujá, banana e abacate.
Suzy é mais um LGBT Sem Terra que perdemos para a LGBTIfobia. A cada 29 horas 1 sujeito LGBT é assassinado no Brasil. Cerca de 20 milhões de brasileiras e brasileiros, uma média de 10% da população, se identificam como pessoas LGBTQIA+, de acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Cerca de 92,5% dessas pessoas relataram o aumento da violência, segundo pesquisa da organização de mídia Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford. Em 13% das ocorrências, que chegaram a ser registradas, as pessoas sofreram também violência física.
Exigimos que os órgãos de justiça realizem as investigações necessárias e que os culpados por esse crime sejam responsabilizados. Justiça por Suzy, já!
Nos solidarizamos com os familiares, amigos e toda militância Sem Terra que tem acompanhado de perto as alegrias e as dores que Suzy travou na luta pelo direito à terra. Seguiremos nas trincheiras contra toda forma de violência. A resistência de Suzy e sua alegria em ver a terra repartida, nos motiva a seguirmos firmes contra a LGBTIfobia.
Reafirmamos: malditas sejam todas as cercas e leis que impedem o ser humano de viver e amar; maldita seja a LGBTIfobia que ceifa a vida e os sonhos da população LGBTI+. Resistiremos!
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
04 de julho de 2022, João Pessoa – Paraíba
Fonte: Site Brasil de Fato – João Pessoa