Diferentes pontos de vista sobre a vivência do meio acadêmico na década de 1990 foram apresentados e debatidos na manhã desta terça-feira (28/03) na sede da ADUFPB. O painel “Memória dos 1990 na UFPB” foi a terceira-mesa redonda promovida pelo sindicato com o objetivo de resgatar a trajetória da instituição sob o ângulo dos docentes e também dos servidores técnicos.
A mesa-redonda ficou sob a responsabilidade dos professores Ivan Targino e Socorro Xavier e do servidor técnico Fernando Abath. A professora Terezinha Diniz, presidente interina da ADUFPB, destacou a importância da atividade: “é riquíssima essa interação entre professores e servidores. É ponto de honra ouvirmos os debatedores, pois é uma experiência que nos enriquece e empolga, ao revivermos as histórias contadas.”
A primeira a explorar o tema foi a professora Socorro Xavier. A docente destacou uma visão macro do período, abordando fundamentalmente a política e os projetos governamentais para o ensino superior no país. “Foi uma década marcada pelo neoliberalismo de FHC e Collor, que pregavam a redução do Estado. Nessa perspectiva, uma das propostas para as universidades era um modelo de organização social que tivesse recursos públicos, mas que contasse também com recursos capitalizados pela iniciativa privada”, lembrou, acrescentando que essa idéia já vinha desde os tempos da ditadura militar.
Também houve nessa época, continuou Socorro, “um ponto central de contradições das lutas e dos movimentos, já que o governo queria privatizar as universidades e os docentes e estudantes, não”. Estagnação na oferta de vagas nas universidades públicas, ao passo que nas instituições privadas essa oferta ia num crescente e flexibilização de novas modalidades de cursos – com formato de currículos flexibilizados – que deu liberdade para as faculdades particulares criarem seus cursos foram outros pontos citados pela debatedora.
“Pós 1985, com o fim formal da ditadura militar, o Brasil, e particularmente na UFPB, vivíamos um ardente desejo de reencontro com a democracia”, destacou logo no início de sua fala, o servidor técnico Fernando Abath, que trabalha na UFPB há mais de 34 anos. Apoiado nessa vivência, Abath relembrou as lutas nas quais a categoria estava engajada naquela época: política de desenvolvimento para os servidores técnicos-administrativos; formação e capacitação; participação na gestão, nos colegiados, conselhos superiores e na vida universitária; Plano de Carreira, cargos e salários; melhoria nas condições de vida e trabalho; consulta para reitor que se esgotasse no âmbito da instituição; convocação para uma estatuinte e programa de saúde ocupacional.
“A década de 90 inicia com a criação de vários programas de pós-graduação, consolidando a UFPB também como centro de pesquisas”, avaliou, citando como destaque a Resolução 58/90 que criou o doutorado em Letras, no CCHLA.
Fernando Abath ainda elencou outra série de acontecimentos que marcaram a década, a exemplo da criação de cursos técnicos; da instituição de gratuidade no Restaurante Universitário; da construção física das sedes do Sintesp-PB e da ADUFPB no Campus I; além das resoluções que criaram o Hospital Universitário Alcides Carneiro (UAC, em Campina Grande), a Superintendência de Recursos Humanos (SRH), a Divisão de Meio Ambiente na Prefeitura Universitária e o Museu do Brejo Paraibano. “Foram muitas as conquistas e muitas froam as lutas não vencidas, Segundo Neroaldo Pontes, nunca foi tão bonito, nunca foi tão difícil”, finalizou.
O professor Ivan Targino iniciou a fala destacando que vivencia a UFPB desde a década de 1970, primeiro como professor do Departamento de Economia, depois, já nos anos 1990, integrando a Pro-reitoria (antiga PRAC), no reitorado de Neroaldo Pontes (1992-1996). “Sob o ponto de vista de quem estava com a mão na massa, foram anos difíceis, tanto interna como externamente para as instituições de ensino e para a UFPB. O reitorado do professor Sobrinho foi conturbado, além de ter sido o período do governo Collor ”, contou. O movimento docente, continuou, “teve papel importante, foram feitas severas críticas ao reitorado e foi quando criou-se força na propositura para a candidatura de Neroaldo Pontes”.
A questão dos 84,2% na justiça permeou todo o reitorado de Pontes, segundo relembrou o professor Ivan: “a UFPB teve que recorrer e todo dia havia uma novidade sobre esse caso. Mas, o período também gerou ganhos como resgate institucional das atividades acadêmicas e a expansão dos programas de iniciação científica com bolsas de estudo”.