Começa nesta quarta-feira (3/8), no campus I da UFPB, a 30ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), com o tema “Políticas da antropologia – ética, diversidade e conflitos”. O evento é considerado o maior encontro de antropólogos do País e reunirá, até o próximo sábado, profissionais de todas as regiões brasileiras. Na programação estão previstos 64 grupos de estudo, 41 mesas redondas, lançamentos de livros, entrega de prêmios e conferências.
A temática deste ano tem por base o momento atual de crise política – com um enorme crescimento do conservadorismo e o recuo em relação a direitos conquistados – e crise econômica, o que obriga a refletir e atuar com mais intensidade sobre o papel do antropólogo em nossa sociedade. Uma temática que engloba o destaque negativo que a Antropologia vem recebendo na grande mídia, principalmente nas situações que envolvem o direito de povos e comunidades tradicionais.
Pela primeira vez a RBA será realizada na Paraíba. O Estado conta hoje com uma graduação e uma Pós-Graduação em Antropologia, além de três cursos de Ciências Sociais, compondo outra importante frente de trabalho da 30ª RBA. Trata-se da expansão dos cursos de graduação e pós-graduação no país, que refletem na necessária discussão sobre a ampliação das possibilidades de emprego no cenário universitário, nas agências da administração pública e em organizações não-governamentais, assim como em consultorias privadas e em empresas.
A programação completa da 30ª RBA pode ser vista no site do evento: http://www.30rba.abant.org.br/
Pioneiros
Em visita à ADUFPB, o professor José Maria Andrade, antropólogo, ex-DCS/UFPB e atualmente na Universidade de Strasbourg (França), contou que foi convidado a falar sobre os pioneiros da disciplina na Paraíba, homenagem da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) aos primeiros mestres. Andrade acaba de lançar no Amazon.com.br uma trilogia sobre Extensão.
“Fui convidado a gravar depoimento pessoal, da atuação como antropólogo na pesquisa, ensino e na extensão – movimentos de Fitoterapia em Serviço Público e Educação em Direitos Humanos. E trata-se aqui de complementar minha contribuição, lembrando colegas. Não me considero pioneiro, pois ao chegar à Paraíba, em 1969 encontrei na UFPB os pioneiros: Frans Monen, René Vandezande e Aécio Vilar de Aquino a quem homenageio neste primeira galeria”, contou o professor José Maria Andrade.
Confira abaixo o relato sobre os pioneiros da antropologia na UFPB.
O professor José Hesheth Lavareda foi o pioneiro da Paraíba. Discreto, pouco se sabe sobre ele. Não teve filhos e tento localizar familiares nesta pesquisa. Foi Irmão Marista, e, na Ordem, pode haver informações sobre Lavareda. Conheci Zé Lavareda em Recife nos anos 1960: como ele eu também fazia pesquisas para a Fundação Joaquim Nabuco. Bem simpático recebeu-me em seu apartamento (R. Giriquiti – Recife), e me estimulou nas primeiras pesquisas. F. Monen o reconhecia como pioneiro: “com seus ensinamentos e seu exemplo, estimulou a muitos de nós para continuar o trabalho por ele iniciado”.
Quanto a Monen (1944- 1913), Doutor em Antrop. (Holanda,1973), foi o que mais escreveu sobre os Potiguara. Holandês de origem chegou jovem para um trabalho humanitário tendo dedicado a vida de pesquisador engajado junto aos autóctones em Bahia da Tradição. Ele deixou parte de sua biblioteca e rico material com um amigo Potiguar, então funcionário da UFPB; além do acervo pessoal que doou a Biblioteca Setorial do CFCH /UFPE. Antes dele morrer o Prof. Renato Athias o entrevistou. Dentre seus inúmeros escritos assinalo apenas: “Pindorama Conquistada: repensando a questão indígena no Brasil”, João Pessoa (Ed. Alternativa) 1983 e ‘Os Potiguara: história de um povo traído’ in Capítulos de história da Paraíba, Campina Grande (Gov. do Estado) 1987:78-84.
René Vandezande (1930-) é Mestre em Sociologia, UFPE, 1975, com famosa dissertação: “Catimbó: pesquisa exploratória sobre uma forma nordestina de religião mediúnica”; Doutorado em Antropologia, (Utrecht/ Holanda, 19780) é autor de “Cultura afro-brasileira: vida e morte de uma disciplina marginal”, Caderno Paraibano de Antropologia 2(1986),163-166.
Aécio Villar de Aquino (1931-1999) – ver http://ihgp.net/pb500j.htm. Livre Docência em Antropologia escreveu: Nordeste Século XIX, (Ed. Univ., J. Pessoa 1977). Dentre suas publicações: Nordeste agrário do Litoral numa visão histórica (Ed. ASA Recife, 1985; Antropossociologia e literatura em José Américo, Fund. Casa José Américo, J. Pessoa 1981; “O Negro no Brasil”, Horizonte, 1976, 2; “Um cronista dos primeiros tempos”, “O Século XIX”, e A cidade in “Uma cidade de Quatro Séculos”, (Gov. Estado), J. Pessoa 1985; “Paraíba, Século I: aspectos antropossociais do início da colonização”, Rev. do Inst. Hist. e Geográfico Paraibano, 24(1986); A ocupação do interior da Paraíba, in Cad. Paraibanos de Antropologia; 1(1985); A agroindústria açucareira na Paraíba do século XIX, Cad. Paraibanos de Antropologia 2(1986); ‘Uma cidade chamada Fredrica’ in Capítulos de História da Paraíba, Campina Grande (Gov. Estado, 1987).
* José Maria Andrade é antropólogo, membro da ABA, pesquisador da Université de Strasbourg (França) – tavares@unistra.fr
Fonte: Ascom ADUFPB e organização do evento