Na última Assembleia Docente, realizada no dia 21/05/2014, no Auditório 411 do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) foi lido um texto, intitulado “Manifesto aos Docentes da UFPB) pela Professora Maria das Graças de Almeida Baptista (DFE/CE), ela mesma autora do texto em questão. Nele, a Professora Graça, em diversos momentos, retomou trechos dos discursos feitos por alguns colegas docentes em assembleia anterior, dentre os quais o meu próprio discurso, estabelecendo, a partir dessas falas, alguns questionamentos concernentes a algumas das ideias defendidas por mim e por outros professores, acerca do que pensamos sobre greves, sindicatos, comprometimento, participação, luta e outras coisas desse jaez que surgem em momentos em que se discute a pertinência e conveniência de uma paralisação docente na UFPB. A alguns desses questionamentos procurei responder, de viva voz e corpo presente, na mesma assembleia em que o texto da Professora Graça foi apresentado, quando de minha intervenção nos debates. Contudo, ao ver o seu texto publicado na página da ADUF na Internet (https://www.adufpb.org.br/site/manifesto-aos-docentes-da-ufpb/), me senti na obrigação de aclarar melhor o que procurei dizer, tanto em uma ocasião quanto na outra, e peço licença para o fazer agora, neste espaço, sempre deixando claro que não se trata de uma resposta pessoal à referida professora, a quem voto meu respeito e consideração, em nome da ética e do decoro profissional e acadêmico, mas sim de um contraponto a algumas das ideias que vêm sendo debatidas nas assembleias docentes, contraponto esse que julgo necessário para que se coloque a discussão em termos mais objetivos e claros.
O texto começa com uma indagação sobre a necessidade de se iniciar uma campanha para mostrar para o Governo, ou mesmo para outros setores da sociedade, que o legítimo representante da categoria é a ANDES. Apontei, em minha fala que, pessoalmente e com base em experiências próprias adquiridas em contatos com representantes sindicais durante a greve docente de 2012, que considero digno de nota o trabalho da ANDES e a respeito, tanto pelo seu passado de reivindicações e vitórias, o que não deploro, quanto pelo papel que ele exerce nos dias de hoje em prol dos professores. Deixei claro, também, em minha intervenção anterior, que reconhecia o esforço dos seus dirigentes, consubstanciado nas inegáveis conquistas obtidas em um passado de lutas e mobilização. Contudo, é mister declarar que o estava em discussão na assembleia de 21/05 não era a aceitação desse ou daquele órgão como legítimo representante docente, mas sim a pauta de reivindicações e formas de mobilização da categoria. De onde se pode inquirir a validade da afirmação categórica, presente no texto, de que o representante é a ANDES, tanto quanto a sua extensão: somente uma assembleia convocada com tal fim pode deliberar sobre essa escolha, com seu resultado sendo universal e soberano, dentro do que se exige em um ambiente democrático.
No que concerne aos comentários sobre a “morte da ADUF” e “morte da ANDES”, feitas por outro colega professor e que também foram objeto de questionamento por parte da autora do texto, o que tenho a dizer é que, não sendo estas palavras de minha autoria, não tenho como explicitar o sentido que se lhe pretendeu conferir, nem com que intenção foram proferidas. Posso, sim, é afirmar que, ainda que não concorde com o teor delas (como igualmente discordei de alguns outros pontos da fala do seu autor), em minha opinião elas derivam de um sentimento perceptível pelos corredores, salas e espaços livres de nossa Universidade (talvez não unânime ou mesmo majoritário, mas existente, sem dúvida): a de que a forma de atuação dos órgãos de representação docente carece de reparos. Não se sustenta mais um modelo no qual a pauta de reivindicações é decidida em esferas superiores e depois levada, vertical e descendentemente, à deliberação nas assembleias locais, quando o esperável e desejável era que fosse montada a partir das necessidades e anseios captados do contato direto com os professores nos campi, e posteriormente cotejada com demandas de outras universidades e institutos, de forma a produzir uma pauta nacional unificada. Mesmo as visitas de membros dos sindicatos que são feitas (esporadicamente) às coordenações e departamentos são realizadas menos com o intuito de captar as demandas locais e mais com o objetivo de persuadir e convencer os docentes a aderir a uma pauta já previamente definida, quando não para sondar ânimos e almas sobre a aceitação dessa pauta prévia. Não é viável uma atuação sindical que, a despeito de trazer justas e necessárias reivindicações (afinal, quem discordaria de se lutar por melhores condições de trabalho ou por uma carreira docente mais equilibrada ?), atrela-as a um silogismo falacioso: ou se é a favor da pauta e, por isso, a favor da greve; ou se é contra a greve, e, portanto, contra a pauta. Pode-se perfeitamente ser favorável ao que se reivindica e, ao mesmo tempo, ser ontra a greve como meio de reivindicar, por se entender que há meios e modos mais adequados, pertinentes ou mesmo mais eficazes de se conseguir o se que deseja, mas a armadilha silogística acima aludida, mais que impingir um anti-democrático “pensamento único”, segrega e exclui os que dela escapam: esses são os pelegos, os vendidos, os alienados, os descompromissados…Será que o são mesmo ?
Portanto, quando se faz menção à “morte da ADUF ou da ANDES” creio que se faça referência a um modelo cujos resultados, a despeito de terem sido expressivos no passado, não tem correspondido às expectativas atuais da categoria. A evidência maior disso eu procurei levantar em meu discurso: tendo transcorrido menos de dois anos da última paralisação docente, estamos de volta à luta com uma pauta rigorosamente igual: carreira, salários, condições de trabalho, como a indicar que nada foi conseguido com a ação anterior, a maior já havida na história do movimento docente. Isso sem falar em outros pontos que, apesar de toda resistência, receberam aval governamental e já fazem parte da realidade: EBSERVH, regime previdenciário, etc. Esses resultados pífios não podem ser creditados a outra coisa que não a um modelo de ação sindical que não mobiliza o corpo docente de fato, que não traduz os reais anseios da categoria, que não agrega diferentes segmentos da universidade, como pós-graduação, Educação a Distância, extensão e pesquisa, que não cria a força política requerida para que se ganhe peso e vigor na mesa de negociação, que não mostra à sociedade a justeza e a pertinência de suas reivindicações, deixando-as, fácil e tacitamente,travestir-se nos meios de mídia e comunicação como exigências descabidas de uma classe a quem só interessam privilégios. Os aplausos que recebi ao tecer essas considerações em minha intervenção , mais do que produto de alienação coletiva, conforme o insinuado no texto da Professora Graça, ou mesmo fruto de meus discutíveis méritos como orador, são a constatação inequívoca de que o sentimento de frustração a que aludi permeia nosso espaço, e de que a necessidade de novas formas de combate é urgente. De minha parte, continuo acreditando em meus representantes sindicais, e penso ser este o sentimento da maioria dos professores, mas não esperem dos que me ovacionaram o endosso a uma política que, lamentavelmente, teve seu prazo de validade esgotado – conclamem todos a uma nova maneira de lutar e não faltarão lutadores.
Logo, o comportamento de uma expressiva parte do corpo docente nas recentes assembleias não é derivado de um desejo de não fortalecer nosso sindicato, nem de não se compreender o que é “indicativo de greve com e sem data”, nem o de não acreditar na luta, nem de não se perceber que se está em um “momento decisivo” nas negociações, ainda que em muito poucas vezes haja algum esforço em se demonstrar o caráter de iminência desse “momento”. Não duvido de que as indagações suscitadas pela Professora Graça em seu texto sejam sinceras, mas peço sua permissão para discordar frontalmente das respostas que ela sugere. Colocamo-nos de modo resoluto não contra greve ou quaisquer outras formas de luta, mas sim contra esse modelo que impõe greve como única forma de pressão possível, e uma greve com todas as características prejudiciais que apontei alhures. Propus, na ocasião, outros meios de ação que, a meu ver, mais se coadunam com a realidade atual, em termos de abrangência, poder e eficácia: ocupação da mídia, através das redes sociais, dos blogs, dos sites de opinião, dos canais televisivos e radiofônicos; ações junto à comunidade universitária, envolvendo alunos, pais e demais entes relacionados, para que se demonstre a necessidade de uma universidade forte e atuante, o que pode ocorrer dando maior visibilidade aos programas de extensão; atuação contínua e incansável junto à Reitoria, para que haja maior eficiência e transparência na gestão dos recursos orçamentários, de forma a resolver as demandas internas relativas às condições de trabalho. Aos que porventura retorquirem com o argumento de que essas propostas são inviáveis, impraticáveis ou mesmo sonhadoras, pode-se dar como resposta a mesma citação usada pela Professora Graça: “Já dizia um poeta quando se perguntava: pra que serve a utopia? E ele próprio respondia: A utopia nos faz caminhar…”.
Finalizando, concordo com a Professora Graça quando ela diz que não precisamos de outra entidade de que represente a categoria, porém ressalvo que, seja lá qual for essa entidade, ela não pode viver de méritos passados, nem se escorar em meios de ação já vencidos. A categoria docente resiste firmemente apesar de tudo – estão aí os concursos públicos para professor universitário que não me deixam mentir – e estamos longe de estarmos jogados ao chão ou relegados ao limbo: assim ficaremos se conferirmos às nossas lutas ares de pretérito perfeito, ao invés de fazermos dela o futuro do presente. É isso que realmente eu desejo, juntamente com boa parte de meus colegas.
Meus abraços cordiais à Professora Graça, com meus honestos elogios ao seu texto.
Atenciosamente,
Professor José Ferrari Neto
DLCV-CCHLA