José Flávio Silva
Transbordou. Não foi o rio Paraíba que transbordou a chegada das águas vindas da captação do rio São Francisco. A água não foi volumosa, o que transbordou foi a alegria das pessoas ribeirinhas do rio Paraíba. Algumas banhavam-se nas águas escorregadias, cuja lembranças remete a Heráclito. Outras encheram as mãos de água, céticas do que estavam vendo, para ter certeza banhavam os rostos e fixando-se os olhares desvendando o mistério do H2O, cuja junção é fundamental para a vida.
O cenário dialético mostra que a água é a substância necessária à vida. Encontra-se em Jean-Paul Sartre: “a existência precede a essência”. Seguindo Aristóteles quando diz “Tales diz ser água (o princípio), leva sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente de procede por ver que o alimento de todas as coisas é úmido,…”
Entendendo que Tales antecede o existencialismo de Sartre porque tem na água o princípio de todas as coisas. Daí a alegria contagiante das pessoas residentes na região do Cariri da Paraíba, no entorno da cidade de Monteiro. A água chegou com afirmação de vida que apelava para fixação, concretizando a esperança realizada após décadas de olhar para o infinito, barrando no horizonte em busca de água. Ao lado das pessoas as plantas rejuvenescem confirmando as previsões de Tales, como princípio.
As águas seguem rolando o declive do leito do rio Paraíba absolutamente seco. Preenche cada poço, cada brecha encontrada, cada fenda encontrada no barro sofrido pela alta temperatura vinda do sol. Caminhou sem pernas, rolou por sobre o colchão seco aguardado pelo rio Paraíba, sempre avançando para atingir as águas do açude Epitácio Pessoa. As águas do açude Boqueirão prepararam um comitê de recepção. Ao tocarem-se a esperança tornou-se realidade. Todo o Cariri tremeu de alegria. A terra vibrou de emoções.
Essas constatações mostram o quanto Tales é importante em suas reflexões para as pessoas do Cariri da Paraíba. Sem querer têm na água o princípio material e o princípio filosófico. É um momento de reflexão para professores, alunos e estudiosos residentes naquela região castigada pelos raios ultravioletas emitidos pelo sol, soberanamente reinando no espaço.
No momento o foco filosófico centraliza-se em Tales. Ele foi o filósofo que se debruçou sobre a água para senti-la como matéria consubstanciosa da vida, diferente de Narciso que ao debruçar-se sobre a água apenas via-se com orgulho. Tales declinava que a água era a plenitude da vida, como mostraram os ribeirinhos do rio Paraíba ao contemplarem aquele veio transbordante que seguia em busca do infinito isto é, a vida. Só nos resta dizer: “com água, a vida prolonga-se”.
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Aula apresentada no Congresso Nacional de Professores e Estudiosos de Filosofia (I CONPEF), realizado na UFPB em 03/04 de maio de 2017.