Rolando Lazarte*
Esta tarde/noite, passei algum tempo contemplando a lua no céu sobre o mar. O reflexo prateado nas ondas ondulantes. O azul escuro, quase preto, como pano de fundo. As luzes da orla marítima iluminada em direção à Ponta do Seixas. Conversa com alguns familiares. Gente jogando tênis na areia, na praia. Cumprimentamos alguns amigos. Um dia cujo resumo começa pelo final. Talvez por ter sido um dia um tanto atípico.
A mata da universidade. A receita federal. O banco. O sindicato. Ou teria sido ontem o sindicato? Fora ontem. A lembrança da presença da filha mais velha em casa. Os passeios. Jacaré. Cabedelo. Praia Bela. O tempo ia se compactando. O tempo recuava e se comprimia em si mesmo. Os aeroportos. Mendoza. Buenos Aires. São Paulo. João Pessoa. Via os rostos dos amigos e amigas da Terapia Comunitária Integrativa em Paraná. Misiones. Cuiabá. Brejo das Freiras, no interior da Paraíba.
E a lua no céu ia subindo. O mar marolando, prateado. Ondulando na noite. Família e amigos, lá e cá. Onde seria lá e cá? É aqui, neste mesmo lugar onde estou. Nesta máquina de escrever, neste teclado, esta noite, agora. Agora é isto. Isto é tudo. Tudo está aqui. Tudo é isto. As nuvens pela janela do apartamento pareciam flocos de algodão. John Lennon. <em>Imagine.</em> O exílio. A ditadura. O exílio. A vida. Crescer. Solidariedade. Os filhos e filhas. Raízes. A vida renasce. Renasce. Renasce a vida. O milagre é a vida. Milagre é estarmos vivos e vivas. É isto.
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*Sociólogo, terapeuta comunitário, escritor. Membro do GEPSMEC-Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da UFPB e do MISC-PB, Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba.