Representantes da atual diretoria e ex-presidentes da ADUFPB participaram na manhã da última quarta-feira (18) de uma vigília virtual em defesa da democracia e da autonomia universitária e contra a intervenção na UFPB. A atividade, transmitida pelo canal do sindicato no YouTube, precedeu o ato presencial que reuniu milhares de professores, técnicos-administrativos e estudantes em uma caminhada pelo bairro dos Bancários até a reitoria do campus I. Além disso, por decisão da assembleia de professores, as atividades docentes estiveram paralisadas durante todo o dia.
Quem não assistiu à transmissão ao vivo pode acessar o vídeo no canal da ADUFPB ou no final deste texto. Oito ex-presidentes participaram da vigília: Cristiano Bonneau, Marcelo Sitcovsky, Jaldes Menezes, Cida Ramos, Ricardo Lucena, Socorro Xavier, Jonas Duarte e Alexandre Nader. A atividade contou também com o atual presidente da entidade, professor Fernando Cunha, e as falas foram coordenadas pela diretora de Cultura do sindicato, professora Sandra Luna.
Em sua fala, o presidente Fernando Cunha disse que a intervenção na UFPB, assim como em outras 16 instituições federais de ensino do país, é uma situação que ataca o processo histórico consolidado pela autonomia das universidades de respeito à consulta eleitoral e à vontade da comunidade.
Ele explicou que a vigília virtual realizada pela ADUFPB junta-se a diversos outros eventos que estão sendo realizados nacionalmente, a exemplo da vigília do Instituto Silvia Lane, que aconteceu no dia 11 de novembro.
Fernando Cunha também mencionou o ofício enviado pela procuradoria da UFPB cobrando do sindicato uma proposta de reposição das aulas suspensas na paralisação da quarta-feira, caso contrário haveria corte de ponto. O presidente da ADUFPB explicou que a entidade já encaminhou resposta jurídica à universidade e está acompanhando o desdobramento.
“Nós não temos nenhuma irregularidade, cumprimos rigorosamente todo o princípio constitucional e iremos acompanhar e garantir que o livre direito de paralisação e mobilização seja garantido aos professores da Universidade Federal da Paraíba”, afirmou Fernando Cunha.
Cristiano Bonneau
Já o ex-presidente da ADUFPB – nos anos de 2018 e 2019 – e atual diretor de Comunicação, Cristiano Bonneau, disse que o interventor está “mostrando a que veio”, tendo em vista a reação de ataque à mobilização legítima dos professores. “Ao assumir nessas condições, não temos dúvida de que ela instaurado na nossa universidade uma crise sem precedentes do ponto de vista da democracia e da autonomia”.
Segundo ele, os docentes não vão aceitar o golpe e reafirmam a falta de legitimidade do interventor. “Quais vão ser as condições de governabilidade de alguém sem nenhuma legitimidade? Temos um pequeno indicativo de como isso vai acontecer, com tentativas de coerção, de ameaças à comunidade acadêmica”, declarou.
Marcelo Sitcovsky
Quem também se pronunciou foi o ex-presidente Marcelo Sitcovsky, que atuou à frente da ADUFPB nos anos de 2016 e 2017. Ele destacou que a história do sindicato é forjada na luta em defesa da autonomia e da democracia universitária, e que o interventor foi “reprovado duas vezes”, tanto na consulta eleitoral, que é um instrumento fruto de uma conquista de gerações anteriores, quanto no colégio eleitoral, onde ele não obteve nenhum voto para constar na lista tríplice.
Segundo Sitcovsky, essa situação deve exposta e ressaltada, porque denuncia a falta não só de legitimidade do interventor, quanto de ilegalidade. “Como se forma uma lista tríplice com um candidato sem um único voto? E pior, como acaba sendo nomeado para ocupar o cargo de dirigente máximo da nossa universidade?”
Jaldes Meneses
O professor Jaldes Meneses, que atuou como presidente da ADUFPB em três ocasiões (nos anos 1995 e 1996, depois em 2014 e 2015 e, por fim, em 2010 e 2011) fez um breve relato histórico sobre o processo de escolha dos reitores da Universidade Federal da Paraíba e ressaltou que a instituição tem uma grande tradição democrática, tanto local, quanto nacional. “A universidade não pode ser tutelada pelo estado. A universidade, como diz José Américo de Almeida, tem que ter asas pra voar”, declarou o ex-presidente da ADUFPB.
“Como a UFPB pode voar neste momento, se ela está atarrancada pela veia do autoritarismo? E este não é um discurso de partido político. Este é o discurso da unidade”, acrescentou. Segundo Jaldes Meneses, a universidade tem responsabilidade com a sociedade paraibana por meio da extensão, das pesquisas, dos estudos. E a população precisa dela para além da formação de quadros técnicos e acadêmicos. “Foi exatamente pela convivência democrática que a universidade pode se gabar dos índices acadêmicos nacionais e internacionais”, reforçou.
Cida Ramos
A deputada estadual Cida Ramos, professora da UFPB e presidente da ADUFPB de 2000 a 2002 e nos anos 2006 e 2007, ressaltou a importância do papel do sindicato neste momento de enfrentamento ao autoritarismo do governo federal e declarou que a vigília da última quarta-feira foi um evento de resistência. “Estamos em vigília em defesa de uma instituição que cumpre um importante papel para o Estado e para o Brasil”, afirmou.
Ela destacou o fato de que a UFPB tem pesquisadores listados entre os melhores do mundo. “Isso é motivo para a gente comemorar, mas é motivo para a gente resistir, reforçar a resistência pela democracia e pela autonomia. É importante que a resistência da UFPB ecoe nacionalmente”, declarou. “Quero reafirmar meu compromisso de luta como deputada estadual, colocar o mandato inteiramente à disposição da luta e dizer que essa é uma luta nacional”, afirmou Cida Ramo.
Ricardo Lucena
O professor Ricardo Lucena, presidente da ADUFPB nos anos de 2012 e 2013, iniciou sua fala ratificando solidariedade a toda a comunidade da UFPB que, segundo ele, está sendo “frontalmente agredida pelos atos do autoritário presidente que está no poder”. Ele também prestou solidariedade a todas as comunidades que vêm sendo agredidas pelo governo. “As comunidades quilombolas, as comunidades indígenas pelo Brasil afora, [que sofrem] com os ataques de toda ordem, tanto verbais quanto de ação, com relação a seus territórios as suas conquistas”, afirmou.
De acordo com ele, as escolhas feitas e o respeito à decisão da comunidade universitária deram a possibilidade de crescimento e de ampliação da ação da Universidade no Estado da Paraíba. O ex-presidente da ADUFPB ressaltou que, desde o primeiro reitor eleito na instituição (no governo do último presidente militar, João Figueiredo), todos os que se seguiram foram nomeados conforme respeitando a escolha da comunidade universitária. “Essa instituição está no direito de manter a escolha dos seus dirigentes a partir daquilo que é decidido pela comunidade”, declarou Ricardo Lucena.
Socorro Xavier
Em sua fala, a professora Socorro Xavier, presidente da ADUFPB nos anos de 1992 e 1993, destacou o ineditismo da situação atualmente vivenciada na Universidade Federal da Paraíba. “Ter a livre escolha da sua comunidade acadêmica desrespeitada por um presidente que cada vez mais vem se mostrando como um presidente que quer destruir a universidade pública brasileira, e essa é uma ação que vai nessa direção”, declarou.
Segundo ela, as primeiras decisões do interventor confirmam a falta de respeito com a autonomia universitária. “Ele não tem legitimidade! A comunidade vai resistir até que esse processo seja revertido, seja através de uma luta política, seja através de uma luta jurídica. Nós vamos atuar em todas as frentes para conseguir fazer valer a vontade da comunidade universitária”, afirmou.
Jonas Duarte
Para o professor Jonas Duarte, presidente da ADUFPB nos anos de 1996 e 1997, este momento atual será decisivo para a UFPB e para o Brasil, pois a universidade é a razão crítica e o ser pensante principal da sociedade.”A universidade cumpre o papel de vanguarda . Não existe um país que se desenvolva sem a universidade. Ela é quem promove o avanço científico, o desenvolvimento econômico, o avanço cultural. A essência do desenvolvimento de uma sociedade está na universidade”, declarou.
Segundo ele, calar a universidade cercear uma universidade é castrar a possibilidade de futuro de uma nação. “A coisa é muito grave, porque a essência da universidade é a sua autonomia, é a sua condição de produzir ciência, conhecimento, vanguarda cultural com liberdade, soberania, capacidade criativa e sem algemas. Então vocês imagine a violência de um ato de intervenção na universidade. É tentar calar a alma a vanguarda, a essência de uma sociedade. Se isso se concretizar, será um desserviço para o desenvolvimento da Paraíba e do Brasil”, sentenciou Jonas Duarte.
Alexandre Nader
Encerrando as falas dos ex-presidentes da ADUFPB, o professor Alexandre Nader (que esteve à frente do sindicato nos anos de 1991 e 1992) lamentou o fato de, após décadas de vivência na Universidade Federal da Paraíba, precisar testemunhar o desrespeito à comunidade universitária. “Tive o desprazer de ver essa situação acontecer agora em 2020, esse ano tão funesto, tão nefasto na vida do país. E essa minha perplexidade só não transformou em paralisia porque nós temos uma tradição de luta, uma tradição de sermos capazes de conduzir a categoria e levar adiante suas bandeiras”, declarou Nader.
Segundo ele, durante o governo Bolsonaro, existe um projeto sendo implementado. “O projeto de tentar transformar o nosso país em algo feio, que lamenta e se envergonha de ser quem é. E esse projeto passa necessariamente por destruir a autonomia e a democracia da universidade”, afirmou Alexandre Nader.
Assista ao vídeo da vigília:
Fonte: Ascom ADUFPB