A esquerda brasileira tem problemas graves de organização por seguir um modelo ainda dos anos 60-70, muito centralizado, hierárquico, hegemonista e vertical. Essa foi uma das críticas feitas pelo professor da Universidade de São Paulo, Vladimir Safatle, que deu palestra na UFPB na última quinta-feira (31/8).
Ele foi o convidado da ADUFPB para comandar o segundo debate do projeto Realidade Brasileira e Universidade – iniciado no dia 18 de agosto, com palestra do professor da Universidade Federal Fluminense, Fernando Penna.
O evento com Safatle aconteceu na manhã da última quinta-feira no auditório da Reitoria, campus I da UFPB. Ele abordou o tema “O Conservadorismo na Atualidade Brasileira”. Safatle foi acompanhado no debate pela professora aposentada do Departamento de História da UFPB, Rosa Maria Godói.
“Acho que existe uma autocrítica a ser feita também sobre o que foi esse primeiro grande momento de governo de um partido ligado à esquerda no Brasil. Foi a primeira vez na história brasileira. Foram 14 anos, é muito tempo. Há de se pensar: o que deu errado? O que a gente quer daqui pra frente”, declarou Vladimir Safatle em entrevista antes da palestra no auditório da reitoria.
Ele acredita que também existe uma tendência e uma fragmentação muito forte de demandas. “Você vê hoje muitas mobilizações, mas elas não conseguem se organizar em uma constelação”, afirmou. Para o professor da USP, a esquerda tem se perguntar primeiro que tipo de mobilização precisa daqui para frente.
“A esquerda não está em uma situação de baixa mobilização. Você pega, por exemplo, todo esse debate em torno de questões feministas, LGBTs, questões de minorias, questões raciais. São mobilizações muito fortes, só que não conseguem se articular conjuntamente, se incorporar em um ponto e criar uma espécie de visão global de sociedade, o que era um pouco o que se esperava da esquerda: que ela fornecesse uma outra visão global de sociedade”, analisa.
Para Vladimir Safatle, em grande parte essa situação é resultado do fato de que, embora a esquerda tenha operado muitas mudanças nos 14 anos em que esteve no poder, ela mostrou, a partir de determinado momento, que não tinha mais criatividade política e institucional para colocar processos de transformação em marcha. “Então eu acho que, se a gente conseguir de fato ter mais clareza a respeito de que transformações nós queremos e até que ponto nós estamos dispostos a lutar por elas, acho que esse processo de incorporação vai se dar de maneira mais bem sucedida”.
O vídeo da palestra de Vladimir Safatle será disponibilizado nos próximos dias no canal da ADUFPB no Youtube e no site do sindicato.
Fonte: Ascom ADUFPB